Caracterização dos cuidados em saúde bucal a crianças e adolescentes com paralisia cerebral: visão dos pais e cuidadores

Abstract

Crianças e adolescentes com paralisia cerebral (PC) apresentam características típicas, advindas da lesão no sistema nervoso central, que provoca alterações no movimento e na postura, e consequentemente, repercussões no desempenho de atividades comuns no dia-a-dia, tais como fazer sua própria higiene bucal, dependendo muitas vezes do auxílio de um cuidador, inclusive para o acesso aos serviços odontológicos. Diante das dificuldades diárias desses indivíduos, delineamos um estudo cujo objetivo foi avaliar os cuidados odontológicos de crianças e adolescentes com PC, de acordo com sua gravidade, através da visão dos pais e cuidadores. Trata-se de um estudo série de casos realizado no período de janeiro a agosto de 2017, no setor de Fisioterapia da Fundação Giácomo e Lúcia Perrone, na Pepita Duran - Clínica Multisserviço e HomeCare – e nos Ambulatórios de Reabilitação (Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional) e de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital das Clínicas/UFPE. A coleta de dados consistiu de informações prestadas pelas mães através de entrevistas utilizando-se formulário com perguntas fechadas e pré-codificadas sobre as condições socioeconômicas, hábitos de higiene bucal, dificuldade de acesso ao serviço odontológico e percepção quanto à qualidade da sua saúde bucal e a do seu filho. Participaram 94 pais/cuidadores de crianças e adolescentes com diagnóstico de PC, entre cinco e dezoito anos de idade, com níveis de comprometimento motor leve, moderado e grave avaliados pelo Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS). Verificou-se percentual significantemente maior de crianças/adolescentes com PC grave pertencentes às famílias de baixa renda, procedentes do interior do Estado, em uso de anticonvulsivante e alimentando-se através de sonda/gastrostomia com alimentos de consistência líquida/pastosa. A higiene bucal desse grupo de indivíduos foi realizada mais frequentemente apenas pelo cuidador, com utilização de gaze/fralda umedecida e com ausência do uso do fio dental. As dificuldades relatadas pelas mães/cuidadores quanto ao acesso aos cuidados odontológicos se relacionaram mais frequentemente ao transporte e à acessibilidade ao serviço odontológico, como também informaram perceber uma maior necessidade nos cuidados na higiene bucal da criança/adolescente com PC grave. As mães/cuidadores destacaram a necessidade de maior disponibilidade de dentistas especializados para atendimento a pessoas com Necessidades Especiais, seguido de maior facilidade de transporte, como prioridade para melhoria dos cuidados odontológicos a esses indivíduos. Conclui-se que são necessárias iniciativas que promovam orientações aos cuidadores/familiares sobre a adoção de práticas cotidianas de higiene bucal, como também sejam motivadas a realizar visitas frequentes ao Cirurgião-Dentista, diminuindo a ocorrência de doenças bucais e melhorando a qualidade de vida das crianças/adolescentes com PC.