O trabalho dos cortadores de cana na Paraíba dos anos 2000: exploração e produtividade

Abstract

Esta dissertação constitui um estudo sobre as transformações contemporâneas do trabalho assalariado no Complexo Agroindustrial Canavieiro da Paraíba. O objetivo consiste em investigar as determinações econômico-produtivas e histórico-sociais que particularizam a exploração do trabalho dos cortadores de cana na década de 2000, em relação à década de 1990. O eixo da análise recai sobre a dimensão da produtividade, pressuposto orientador do novo ciclo restaurador do setor sucroalcooleiro, iniciado no limiar do século XXI por uma conjunção entre determinações internas e externas. Presidida pela dialética entre o “moderno” e o “arcaico”, essa reinvestida produtiva revela algo intrigante na realidade particular de um estado do Nordeste brasileiro: o acirramento da extração de mais-valia sem que isto implique na extensão da jornada de trabalho ou na alteração dos instrumentos de trabalho, o que complexifica relações como mais-valia absoluta/mais-valia relativa, urbano/rural, indústria/agricultura, fundidas pelo amálgama que conta a história do corte manual da cana-de-açúcar. Em vista disso, o debate teórico guia-se a partir dos fundamentos da relação entre trabalho, questão agrária e desenvolvimento desigual e combinado nas realidades brasileira e paraibana. Ao situar o panorama atual do setor sucroalcooleiro em âmbitos nacional e estadual, caracteriza-se a forma e o conteúdo assumidos na atualidade pela exploração do trabalho dos cortadores de cana na Paraíba. Interessa, em suma, identificar a dialética continuidades-descontinuidades que informa o objeto pesquisado. Os instrumentos metodológicos utilizados valem-se da pesquisa bibliográfica, da pesquisa documental e da pesquisa de campo desenvolvida por meio de entrevistas e observações junto aos trabalhadores canavieiros e representantes do sindicalismo rural. Os resultados apontam para a existência de um rearranjo na força de trabalho empregada nos canaviais do estado da Paraíba, enfeixado numa crescente seletividade dos trabalhadores, numa política salarial assentada no pagamento por produção, na constituição do ideário do “cortador-colaborador”, no acirramento dos impactos negativos do ciclo agrícola sobre o assalariamento temporário e na alteração da mobilidade do trabalho, agora tendencialmente operada no sentido cidade-campo, isto é, das periferias de pequenas cidades ao corte de cana. Tudo isto, conjuntamente, põe em outro patamar a relação entre exploração e produtividade na agroindústria canavieira da Paraíba.