Práticas de leitura na educação de jovens e adultos: da vida para a escola e da escola para vida

Abstract

O presente trabalho pretendeu investigar as práticas de ensino da leitura de professoras que lecionavam em turmas da II Fase da Educação de Jovens e Adultos e as possíveis relações existentes ensino promovido pelas mesmas e as práticas de leitura vivenciadas por seus alunos no cotidiano. Nessa perspectiva, buscamos: identificar as concepções de leitura que possuem as professoras investigadas e as relações dessas com as práticas de ensino da leitura propostas em sala de aula; observar a construção das práticas de ensino da leitura no cotidiano de sala de aula; identificar, na rotina das docentes, os gêneros textuais e as atividades propostos e objetivos de ensino para os mesmos. E, ainda, buscamos identificar as práticas de leitura que os alunos vivenciam em contextos extraescolares e as relações que estes conseguiam estabelecer entre as práticas de leitura vivenciadas em contextos escolares e extraescolares. Participaram do estudo duas professoras que lecionavam em escolas distintas da rede pública de ensino do município de Garanhuns (PE). Um grupo de 19 jovens e adultos, alunos das docentes, também compôs a nossa amostragem. Adotamos uma abordagem metodológica qualitativa de cunho etnográfico e para coleta de dados fizemos uso dos seguintes procedimentos: realizamos em média 15 observações em cada sala de aula das docentes; realizamos entrevistas com as mesmas e com o grupo de alunos. Os dados evidenciaram que na sala de aula , a leitura era realizada com vários propósitos e que, embora as duas professoras tivessem objetivos semelhantes para o ensino da mesma - levar os seus alunos a se tornarem leitores proficientes – elas optaram por diferentes caminhos metodológicos: uma realizou eventos de letramento mais focados na transmissão de conhecimentos e a leitura se constituía o meio para este ensino e, ao trabalhar a compreensão leitora, ela focalizava, principalmente, os aspectos linguísticos dos textos; a outra realizou eventos de letramentos que estavam “mais próximos” da prática social da leitura, uma vez que nestes era promovido o contato e o estudo de diferentes gêneros textuais, o trabalho efetivo com estratégias de leitura e, principalmente, a experiência dos alunos era considerada no processo de construção da compreensão dos textos trabalhados. A partir dos resultados, percebemos que, mesmo tendo ocorrido alguns avanços no trabalho da leitura desenvolvido na sala de aula no sentido de abordá-la no contexto das práticas sociais, as aproximações entre as práticas de leitura escolares e as não-escolares ainda se mostram de alguma forma tímida em razão da tensão existente entre elas.