A professora ideal: uma análise do aconselhamento e da premiação como dispositivos pedagógicos de gênero

Abstract

Os dispositivos pedagógicos de gênero se configuram como objeto teórico de estudo que conforma esta tese. Tal objeto interessa-nos pelo modo como atua na regulação e modificação da experiência estética que a professora faz de si. Essa escolha assenta-se na premissa de que há práticas que têm a capacidade de capturar, orientar, determinar, modelar e controlar condutas e discursos dos seres viventes. Seguir com essa perspectiva significa supor que os dispositivos pedagógicos de gênero têm como função social e cultural instituir para cada sociedade o modo de ser e estar no mundo como homem e como mulher. No contexto desta tese, pretendemos argumentar em favor da defesa de que os dispositivos pedagógicos de gênero capturam sujeitos enquanto sujeito professor. Sob esse escopo, o estudo em tela delineia a seguinte pergunta de pesquisa: Como o Aconselhamento e a Premiação atuam na regulação da experiência estética da professora produzindo a professora ideal? De forma mais objetiva interessa problematizar a produção de certo modo de subjetivação e representação da experiência estética que as professoras fazem de si. No centro da questão está à intenção de colocar em suspenso tanto uma possibilidade da existência de um sujeito professor universal – um sujeito substância, quanto busca deixar aparecer diversas formas de governamento por diversos dispositivos culturais que elaboram verdades sobre esse sujeito, polarizando homem e mulher, com base em suas diferenças psicológicas e biológicas, impondo, assim, um deslocamento de significados. O desenho analítico está conformado nos interstícios da análise arqueológica de Foucault e do campo dos Estudos Culturais e nesse sentido contempla elementos da análise de discursos e elementos da análise cultural e assim textos e imagens são analisadas em sua função enunciativa e nos aspectos da representação, da posição de sujeito e da performatividade. O arquivo eleito é constituído de materialidades discursivas que integram o discurso cultural da revista Nova Escola a respeito do “Prêmio Educador Nota 10” da Fundação Victor Civita, na seção “Fala Mestre” e na seção “Obrigada, professora”. Também é analisada a preleção dirigida a professorandas e bacharelandos por Ulisses Pernambucano, documento do acervo especial da Biblioteca Pública de Pernambuco, publicado pelas Officinas Graphicas da Penitenciária e Detenção do Recife em 1923. São enunciados advindos da passagem da superfície linguística para a do discurso, examinados pela forma como operam certa tecnologia de gênero nas dimensões do dizível e do enunciável. Na análise empreendida, buscou-se colocar em suspenso um conjunto de práticas discursivas que revelam um regime de verdade sobre a professora ideal e neste intuito investiu-se na visualização da rede que se estabelece entre discursos, proposições na forma como atuam os operadores do discurso pedagógico de gênero e entram em disputa pela significação do sujeito professor. Trabalhar o arquivo escolhido com a analítica escolhida e suas articulações possibilitou visualizar o Aconselhamento e a Premiação fazendo funcionar uma dobradiça de governo da conduta pela manutenção de uma espécie de tutela da experiência mesma de ser professora, com um regime de verdade sobre a professora investida na produção de subjetividades de gênero.