Tratamento ortodôntico para adolescentes: acesso, adesão e fatores associados

Abstract

A maloclusão em adolescentes brasileiros é considerada um problema de saúde pública com uma alta prevalência, correspondendo a 34,9% em adolescentes entre 15 e 19 anos de idade. Tendo em vista que a maloclusão e a estética dentofacial alterada podem comprometer o desenvolvimento emocional, auto-estima e integração social, é importante um entendimento dos fatores que podem comprometer o acesso ao aparelho ortodôntico e a adesão ao tratamento nesta fase de vida. Percebe-se que apesar do progresso nas pesquisas sobre a relação entre senso de coerência e saúde bucal, ainda não há na literatura uma abordagem a respeito da relação entre senso de coerência, maloclusão e tratamento ortodôntico. Assim, este trabalho busca associar este fator psicossocial com a maloclusão dentária, a fim de contribuir mais estreitamente com as necessidades funcionais, estéticas e psicológicas baseadas na individualidade e assim, auxiliar na melhoria da qualidade de vida do adolescente. Trata-se de um estudo transversal com uma amostra de 1.153 adolescentes matriculados nas 11 escolas da rede pública de ensino do município de São Lourenço da Mata-PE-Brasil, onde foram investigados: condições sociodemográficas, comportamentais, fatores psicossociais e de saúde bucal associando estes fatores com o acesso ao tratamento ortodôntico. Destes 1.153 adolescentes, apenas 301 tiveram acesso ao aparelho ortodôntico, obteve-se, então, uma subamostra onde foi avaliada a associação entre o senso de coerência e a adesão ao tratamento ortodôntico. Assim, pôde-se estudar não só o acesso ao tratamento ortodôntico, mas também a adesão a este. Para a coleta de dados, empregou-se um questionário autoaplicável, contendo a versão curta da escala do Senso de Coerência (SOC-13) e foi realizado um exame clínico intrabucal. O estado oclusal foi avaliado através do Índice de Estética Dental (DAI) e a adesão ao tratamento ortodôntico foi definida pela combinação entre as variáveis: ter maloclusão, ter acesso ao aparelho ortodôntico, aquisição do aparelho ortodôntico com profissional habilitado e manutenção periódica do aparelho ortodôntico (visita ao cirurgião-dentista para a manutenção do aparelho com intervalo de, no máximo, 2 meses). A prevalência da adesão ao tratamento ortodôntico foi de 81,2%. A análise de regressão logística revelou que o sexo e o uso de recursos essenciais na higiene bucal (escova, creme e fio dental) estão associados significativamente a adesão ao tratamento ortodôntico na adolescência independentes do senso de coerência. Assim, sugere-se que adolescentes do sexo feminino e com maior cuidado com a saúde bucal têm maior acesso, assim como poder de adesão ao tratamento ortodôntico que os demais adolescentes.