Plantas da Caatinga como fontes de atividades antioxidante, antibacteriana, inibidora de tripsina e lectínica : isolamento de lectinas de sementes de Apuleia leiocarpa (Vogel) J. F. Macbride

Abstract

O baixo custo da medicina popular tradicional brasileira versus o seu benefício terapêutico aliado à falta de tratamento para determinadas doenças, seja por acesso ou inexistência, geralmente são as razões para a manutenção dessas tradições oriundas das culturas indígenas locais, influências européias e africanas recebidas durante a colonização. Na busca por novas moléculas ativas, levantamentos botânicos etno-dirigidos são eficientemente aplicados como ferramenta para seleção de plantas para a triagem farmacológica, onde é possível averiguar o potencial dos recursos vegetais sob diferentes aspectos, desde medicinais, industriais, até suas formas de uso através das gerações. Apuleia leiocarpa (Voguel) J. F. Macbride é uma árvore leguminosa (Fabaceae) com grande valor na indústria madeireira, agropecuária e com alguns relatos na literatura de uso medicinal como anti-sifilítico e anti-ofídico. Este trabalho inicia-se com uma triagem realizada com plantas encontradas na Caatinga buscando investigar novas fontes vegetais com potencial lectínico e atividade inibidora de protease. Em seguida, realizouse a purificação, caracterização e a atividade antimicrobiana da lectina extraída de sementes da Apuleia leiocarpa (LeSApul) e do extrato aquoso (EA) de suas folhas. LeSApul foi obtida por cromatografia em coluna de quitina por eluição com ácido acético 1M. A LeSApul é uma proteína ácida com um peso molecular nativo de 55,8 kDa, termorresistente (100°C/2h), íon dependente (Mn2+) e afinidade por N-acetilglicosamina, D(-)-arabinose e azocaseína. A LeSApul apresentou atividade bacteriostática e bactericida contra três variedades de Xanthomonas campestris (X. c. pv. campestris, X. c. pv. malvacearum e X. c. pv. viticola) como também inibiu cepas Gram-negativas (Escherichia coli, Klebisiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Salmonella enteretidis) e Gram-positivas (Bacillus cereus, Bacillus subtilis, Enterococcus faecalis, Micrococcus luteus, Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes) de patógenos humanos. Os taninos condensados e flavonóides presentes no extrato aquoso (EA) das folhas da A. leiocarpa, confirmados em CLAE-DAD/EM, apresentaram acentuada capacidade antioxidante através dos ensaios de captura dos radicais de ABTS (2,2’-azinobis(3–etilbenzotiazolina)6-ácido sulfônico), de redução do radical DPPH (1,1-difenil-2-picrilhidrazil) e de redução do íon molibdênio (VI) a molibdênio (V). Estes polifenóis apresentaram atividade bacteriostárica contra Enterococcus faecalis, Staphylococcus saprophyticcus saprophyticcus, Bacillus subtillis, Staphylococcus epidermidis e Xanthomonas campestris pv. campestris, onde o melhor desempenho contra a cepa padrão e isolados clínicos multiresistentes de Staphylococcus aureus. EA diminuiu a síntese de estafiloxantina, pigmento carotenóide que estabiliza a membrana bacteriana, gerando um estravazamento proteico e uma cinética de crescimento decrescente nas células nas primeiras 4h de incubação.