Mapa de risco das leishmanioses em Pernambuco e a correlação dos casos humanos de leishmaniose tegumentar com a distribuição de flebótomos em Timbaúba-PE

Abstract

No Brasil, as leishmanioses estão presentes em todo o território sendo o estado de Pernambuco endêmico para ambas as formas da doença. Os sistemas de informações geográficas são eficazes na detecção e reconhecimento de áreas de risco para doenças transmitidas por vetores e permitem obter informações que podem auxiliar nas medidas de controle. Desta forma, buscou-se determinar as espécies de flebotomíneos, sua dispersão espacial e sua taxa de infecção por Leishmania braziliensis, no município de Timbaúba-PE e analisar espacialmente a incidência de LV e LTA em uma série histórica de 2009 a 2018 em Pernambuco. Amostras de sangue dos indivíduos com LTA em Timbaúba foram coletadas. Armadilhas luminosas tipo CDC foram instaladas nas residências para captura de flebotomíneos. Em laboratório, estes foram identificados e as fêmeas separadas para detecção de DNA de Leishmania spp por PCR. As residências de todos os indivíduos suspeitos de terem LTA foram marcados por GPS. Para a série histórica de LV e LTA em Pernambuco, utilizou-se dados provenientes das fichas de notificação no Sistema de Informações de Agravos de Notificação. Utilizou-se variáveis sociodemográficas, e as análises foram realizadas com auxílio do software TerraView 4.2®. Utilizou-se o índice de Moran Global como parâmetro de identificação de aglomerados. Foram capturados 3.744 flebótomos no município de Timbaúba-PE, e identificadas as espécies Nyssomyia whitmani, Migonemyia migonei, Evandromyia evandroi, Psychodopygus wellcomei e Micropygomyia quinquefer, com a predominância de Ny. whitmani (84,59%). Identificou-se um pool de Ny. whitmani infectado com Leishmania braziliensis. Com os mapas georreferenciados observou-se uma maior concentração de casos de LTA tendo os hotspots do mapa de Kernel localizados em proximidade de locais com alto Índice NDVI. Foram também analisados dois bancos de dados compostos por 1.224 casos de LV e 3.675 casos de LTA. Observou-se para a LV como características principais a predominância de indivíduos do sexo masculino (64.22%), das faixas etárias de crianças (43.71%) e de adultos (41.18%), com predominância da escolaridade ensino fundamental (68.09%), sem coinfecção por HIV (63.56%) e tendo o desfecho cura (87.51%) como a característica predominante final. Para a LTA observou-se como predominantes as variáveis sexo masculino (60.16%), adultos (57.90%), ensino fundamental (74.87%), forma cutânea (96.68%) e desfecho de cura (97.99%). Na série histórica, foi observado um aumento linear dos casos LV e uma diminuição linear dos casos de LTA em Pernambuco. O índice global de Moran obtido para LV foi de I = 0,35 (p < 0,01) e para a LTA de I = 0,26 (p < 0,01). Houve formação de clusters para a LV no Sertão e Agreste do estado e para a LTA nas Matas Norte e Sul. Sendo assim, conclui-se que o município de Timbaúba, evidencia uma relação ambiente-vetor-hospedeiro favorável à transmissão da LTA, devido a presença de flebótomos infectados, alta incidência de indivíduos infectados e habitat ideal para os flebotomíneos. Enquanto no Estado de Pernambuco, foi possível identificar os pontos de maior prioridade para ações de vigilância epidemiológica, podendo facilitar o planejamento de ações mais eficazes na prevenção e controle da LV e LTA.