Debates acerca dos “homens de cor” : a imprensa pernambucana e a emancipação escrava (1884-1888)

Abstract

Nos últimos anos do século XIX ocorreram substanciais transformações no Brasil: entrou no país um enorme repertório de ideias europeias que foram adaptadas aos nosso contexto para dar explicações e soluções para o pouco desenvolvimento da nação. O país vivia em um momento de crise em que o Império não atendia mais as demandas de parte da elite nacional e a Abolição da escravidão já se apresentava como próxima. Nesse sentido, o ideário científico-racial foi amplamente assimilado pelos intelectuais brasileiros em um momento em que se discutia a transição do trabalho escravo para o livre. Recife se coloca nesse contexto como capital de uma província economicamente decadente, mas que tentava se manter como vanguarda intelectual do país. Os intelectuais de Recife procuravam, assim, explicar o país de acordo com um exacerbado cientificismo que caracterizou a chamada Escola do Recife. Para além disso, a elite pernambucana tentou construir a imagem de uma cidade pautada nos símbolos de progresso e civilização que não incluíam a cultura e as práticas dos homens negros – tidos como racialmente inferiores. Assim, o debate sobre a abolição que se desenvolve nos jornais tente a colocar os principais interessados – os “homens de cor” – como despreparados e incapazes para o pleno gozo da cidadania. No primeiro capítulo deste desta dissertação busco mostrar como o debate científico-racial estava presente nos jornais no que concerne à discussão literária nos jornais a partir dos pressupostos formulados principalmente pelos intelectuais vinculados à Faculdade de Direito e, consequentemente, à Escola do Recife. No segundo capítulo, o foco é a cidade e as ideias de progresso e civilização formuladas pelas elites letradas que excluiam os homens negros do seu panorama e perseguiam suas práticas culturais através da visibilidade dada a elas nos jornais e da repressão às suas práticas culturais. No terceiro capítulo, mostro como tanto escravocratas quanto abolicionistas estavam instrumentalizados em suas retóricas tanto contra quanto em prol da abolição de um repertório científico racial.