Benefício da deslocação do mascaramento em indivíduos jovens, de meia idade e idosos

Abstract

O reconhecimento da fala em presença de sons competitivos parece ser mais difícil quando as fontes sonoras da fala e do mascaramento provém da mesma direção. Quando as fontes sonoras mascarantes são deslocadas, a fala alvo é melhor compreendida. Esse fenômeno é conhecido como Spatial Release from Masking – SRM, ou Benefício de Deslocação do Mascaramento – BDM. Esta pesquisa teve como objetivo analisar o BDM em indivíduos jovens, de meia idade e idosos, diante da hipótese de haver um efeito da idade nesse fenômeno. Foi utilizada metodologia quantitativa, descritiva, analítica, de corte transversal. Participaram deste estudo, 52 indivíduos, de ambos os sexos, distribuídos da seguinte forma: Grupo Jovem (GJ): 20 jovens entre 17 e 24 anos; Grupo de Meia Idade (GMI): 17 adultos de meia idade entre 40 e 55 anos; e Grupo de Idosos (GI): 15 idosos acima de 60 anos de idade. Os participantes do GJ e CMI apresentaram limiares audiométricos melhores ou iguais a 25dBNA nas frequências de 250Hz até 8000Hz, e os indivíduos do GI apresentaram limiares auditivos até 40dB NA em ambas as orelhas nas frequências entre 250 Hz e 4000 Hz, com queda de até 60dB NA, em alguns indivíduos, nas frequências de 8000Hz. Todos os participantes apresentaram escore acima de 25 pontos no Montreal Cognitive Assesment – MoCA, descartando déficit cognitivo. Foram realizados testes de reconhecimento de fala em presença de mensagem competitiva vinda de fontes sonoras em localizações distintas. O estímulo principal foi composto por sentenças da versão Brasileira do Hearing in Noise Test (HINT), e a mensagem competitiva composta pela fala de dois locutores nativos do português brasileiro, do gênero masculino, lendo o texto “João e o pé-de-feijão. A fala alvo e a mensagem competitiva foram apresentadas aos participantes através de fones auditivos de inserção (ER2). Através do processador de sons Tucker-Davis Technologies (TDT) foram simuladas duas condições de escuta: 1) fala alvo e mensagem competitiva apresentadas a 0o Azimute da cabeça do indivíduo (frontal) - posição partilhada; 2) fala alvo apresentada a 0o Azimute da cabeça do indivíduo (frontal) e mensagem competitiva apresentada a 45o Azimute da cabeça do indivíduo (direita e esquerda) – posição separada. As respostas dos participantes e os limiares obtidos em cada condição de teste foram computadas através do programa Matlab. Os limiares obtidos na posição partilhada para o GJ variaram entre 58,2-62,7 dB NPS (M=60,9), o GMI obteve limiares de reconhecimento das sentenças entre 60-65,2 dB NPS (M= 62,7), e o GI, entre 61,5-69,3 dB NPS (M= 64,9). Nesta condição de teste, constatou-se diferença significativa entre as médias dos limiares de reconhecimento de sentenças do GJ e GMI (p<0,005), e entre o GJ e GI (p<0,005). No entanto, não houve diferença entre o GMI e GI. Com relação aos limiares de reconhecimento de fala da posição separada, o GJ variou entre 53,3- 60,3 dB NPS (M= 59,9), o GMI entre 54,5-60,5 dB NPS (M= 57,9), e por fim, o GI, com variação entre 56,5-68,2 dB NPS (M= 61,1). Houve diferença significativa para as médias dos limiares de reconhecimento de sentenças na condição separada entre todos os grupos estudados (p < 0,005). Através do teste t-student, as médias dos limiares de todos os participantes (great average) foram comparadas entre as duas condições de teste (partilhada e separada) e mostrou diferença significativa (p<0,001), indicando menores limiares de reconhecimento de fala na condição separada. Esse resultado indica a presença de BDM ao se analisar conjuntamente toda a população do estudo. Os valores de BDM de cada indivíduo foram calculados através da diferença entre os limiares obtidos nas duas condições de escuta. No GJ, o BDM variou entre 2,2 e 7,8 dB, obtendo média de 4,9 dB. No GMI, o BDM variou entre 2,3 e 7 dB, com média 4,8 dB, e no GI, entre 0,5 e 6,0 dB, com média de 3,7 dB. As médias de BDM foram comparadas entre os grupos e a diferença não foi significante (p = 0,12). Os resultados levam às seguintes conclusões: 1) existe um efeito da idade na habilidade de reconhecimento de fala em presença de mensagem competitiva (quanto maior a idade, maior a dificuldade), e esse declínio já se mostra presente na meia idade; 2) existe o benefício de deslocação do mascaramento em todas as faixas etárias estudadas; 3) embora estatisticamente não constatado, o BDM mostrou menor magnitude de acordo com o aumento da idade.