Os sentidos do trabalho domiciliar industrial : um estudo nas unidades produtivas do Polo de Confecções do Agreste pernambucano

Abstract

O sentido do trabalho pode ser compreendido como um construto psicossocial, fruto de um processo de atribuição individual de significado e de aspectos compartilhados socialmente, que possuem uma dinâmica recíproca de influência. Na pós-modernidade, a metanarrativa moderna sobre o sentido e o valor do trabalho foi decomposta em pequenas narrativas, que se sobrepõem e geram nos indivíduos uma espécie de insegurança ontológica. Concomitantemente, a racionalização econômica da sociedade implicou numa colonização das várias esferas da vida pelo trabalho, tendo como corolário o trabalho domiciliar. Nesse contexto, o Polo de Confecções do Agreste Pernambucano (PCAP) é marcado pela informalidade e terceirização do processo produtivo para pequenas unidades produtivas domiciliares. Esse arranjo laboral apresenta algumas especificidades que podem implicar na forma como o trabalhador se relaciona com o seu trabalho, especialmente no sentido atribuído a ele. Frente a essa conjuntura, o presente estudo objetivou compreender os sentidos atribuídos ao trabalho domiciliar industrial em unidades produtivas do Polo de Confecções do Agreste Pernambucano (PCAP). Tomando como lente teórica a perspectiva de Pedro Bendassolli acerca dos cinco principais ethos sobre o sentido do trabalho na contemporaneidade, se adotou uma pesquisa qualitativa básica. Os dados foram coletados por meio de entrevista, observação e pesquisa documental em documentários sobre o trabalho na região, e analisados através da análise de conteúdo. Os resultados mostraram que o construto psicossocial do sentido do trabalho domiciliar no Polo é formado, no âmbito social, por elementos ligados às cincos narrativas pós-modernas, às experiências de vida do indivíduo e às características do trabalho domiciliar na região, e no âmbito psicológico, pela apreensão desses elementos sociais pelo sujeito. Nesse contexto, foi identificado: uma sobreposição de dois ou mais ethos no sentido do trabalho dos trabalhadores e um predomínio da lógica instrumental; aspectos que não se relacionam com nenhum dos cinco ethos, como o trabalho para ajudar as outras pessoas e diminuir as responsabilidades do Estado; julgamentos de valor acerca das características do arranjo domiciliar que produzem uma percepção geral positiva ou negativa do trabalho; e episódios específicos de vida e pessoas de referência que também podem implicar no sentido atribuído ao trabalho.