Descaminhos da informação em curso : desinformação e luta de classes no Brasil da pós-verdade

Abstract

Tendo em vista as diversas problemáticas que o uso sistemático de informações falsas tem causado ao redor do mundo, essa pesquisa tem o principal objetivo de compreender a desinformação como um fenômeno político relacionado ao capitalismo. É aplicada uma visão materialista sobre a desinformação, com vistas a compreendê-la a partir de manifestações físicas, cognitivas e sociais, tomando como base as visões de Buckland (2017) e Dantas (2012) sobre as dimensões da informação e sobre informação enquanto processo de trabalho, respectivamente; é traçado também um quadro teórico que visa categorizar os tipos de desinformação com base em conceitos trazidos por Araújo (2021) e Miranda e Santos-D’Amorim (2021). A desinformação, portanto, é entendida como uma forma de manipulação de massas por meio da difusão ideológica da classe dominante sobre a classe trabalhadora, por intermédio do uso da produção ideológica de gêneros discursivos pela superestrutura, materializada na forma de aparelhos ideológicos de Estado, tendo como base teórica a filosofia bakhtinana da linguagem, bem como escritos marxistas sobre ideologia. Nesse sentido, os problemas com desinformação acontecem sob um contexto cultural de pós-verdade, que é entendida como uma consequência do avanço do neoliberalismo em diversas esferas da vida, e que emerge a partir do estabelecimento de um interregno proveniente de uma crise de autoridade e hegemonia do capitalismo. No Brasil, a crise ganha contornos concretos a partir das Jornadas de Junho de 2013, por meio da convergência entre violência policial, cobertura da imprensa, mídias sociais e despolitização. A radicalização de uma Nova Direita é apontada como resultado de um processo que data desde a redemocratização nos anos 1980, mas que somente ganha força a partir das portas da crise abertas em Junho, com uma extrema-direita bem organizada, fazendo uso de produção ideológica para manipulação, e uma esquerda fragilizada que se mostra incapaz de fazer uma força proporcional. Nesse sentido, a educação informacional que almeje combater essa desinformação deve ser feita por uma via radical e revolucionária, na perspectiva de construir as condições de emancipação da classe trabalhadora; seguindo essa linha de pensamento, é buscado trazer qual o papel de bibliotecários e profissionais da informação nesse processo. Ao final, são apontadas possibilidades de ações concretas para esse combate, bem como alguns nortes teóricos de pesquisa, além de apontar os efeitos da luta de classes na Biblioteconomia que impedem que ações mais efetivas sejam tomadas pela categoria como um todo.