Avaliação da toxicidade e da balneabilidade da água do mar em quatro praias do litoral de Pernambuco

Abstract

A praia é um ecossistema bastante suscetível a contaminação antrópica, principalmente devido a ausência de tratamento adequado do esgoto doméstico que acaba chegando nessas áreas. Essa contaminação traz malefícios a saúde humana e ao ecossistema. Uma das formas de monitorar a qualidade ambiental é através da balneabilidade das águas, que consiste na quantificação de coliformes termotolerantes presentes. Esse monitoramento indica a presença de conteúdo fecal na água do mar e a chegada de esgotos domésticos. Por outro lado, a ecotoxicologia avalia os efeitos dos contaminantes presentes na água em organismos vivos. O grupo Copepoda engloba organismos sensíveis sendo, portanto, bons indicadores da qualidade de água. Assim, o presente estudo avaliou a qualidade da água através de testes ecotoxicológicos com os náuplios do Copepoda Tisbe biminiensis em quatro praias de Pernambuco durante o período chuvoso com diferentes padrões de balneabilidade. Para isso, foram realizadas coletas semanais de água entre março e setembro de 2022, nas praias de Jaguaribe, Janga, Pina e Campas. Para avaliar a toxicidade ao organismo teste, o bioensaio consistiu na exposição de náuplios com 24 h de vida às amostras de água controle e testes com parâmetros físico-químicos controlados. A porcentagem de desenvolvimento e sobrevivência foi estimada após 72h. A quantificação da densidade de coliformes termotolerantes foram obtidos com a técnica de tubos múltiplos, que determina o número mais provável (NMP) de coliformes usando o método direto. Foram analisados também índices pluviométricos, salinidade, altura e amplitude de maré. Com base nesses resultados foram feitos testes estatísticos para identificar a correlação entre as variáveis. O ano de 2022 teve um acumulado de chuva acima da média, com maior precipitação nos meses de maio e junho. Para a presença de coliformes termotolerantes houve diferença significativa entre as praias. Contudo, para a sobrevivência e o desenvolvimento dos náuplios as diferenças não foram significativas entre as praias. Vale ressaltar também que, em mais de 50% do período do estudo todas as praias indicaram efeito letal para o Copepoda. Já para os coliformes termotolerantes, todas as praias, com exceção de Campas apresentam (NMP/ 100ml) acima do limite permitido em mais da metade da periodicidade do estudo. A correlação de Pearson não mostrou correlação significativa entre os resultados de coliformes termotolerantes e os de sobrevivência ou desenvolvimento do Copepoda. Portanto, foi observado que o efeito na sobrevivência do Copepoda indicou a presença de algum estressor no ambiente, provavelmente associado a influência das plumas dos rios próximos aos locais de coleta além da chegada dos esgotos. Já para a presença de coliformes termotolerantes foi possível associar a maior contaminação a locais mais urbanizados devido a deficiência no tratamento adequado do esgoto doméstico. Assim, foi constatado que ambos os monitoramentos são complementares para uma visão mais holística do ambiente.