Dinâmica da cobertura florestal e sustentabilidade na Caatinga

Abstract

A melhoria das condições socioeconômicas e a segurança alimentar são objetivos de desenvolvimento buscados por diferentes atores, como governos, comunidades e ONGs. No entanto, seu impacto na cobertura florestal geralmente é negativo. A contribuição das florestas para o desenvolvimento socioeconômico e a segurança alimentar também não está clara. Além disso, as mudanças na população rural e seu efeito na cobertura florestal e nas condições socioeconômicas são pouco conhecidas. Neste estudo, analisamos a relação entre a mudança na cobertura florestal e o desenvolvimento humano em municípios da Caatinga, uma floresta seca no nordeste brasileiro. Também investigamos como a variação na cobertura florestal afeta a segurança alimentar da região e como as mudanças ambientais se relacionam com as mudanças populacionais. Para o primeiro objetivo, utilizamos dados de cobertura da terra do MapBiomas e dados socioeconômicos do IBGE para os anos 1991, 2000 e 2010. Realizamos análises espaciais para comparar a evolução dos índices socioeconômicos em municípios com diferentes níveis de cobertura florestal. Para o segundo objetivo, criamos um índice de segurança alimentar multidimensional com dados do censo agropecuário de 2006 e 2017. Analisamos como as mudanças na cobertura florestal se relacionam com as mudanças na segurança alimentar da região. No terceiro objetivo, usamos dados de cobertura da terra do MapBiomas e dados de distribuição populacional do WorldPop. Estimamos o tamanho da população rural na Caatinga próxima às florestas e examinamos as mudanças populacionais e ambientais, levando em consideração a estrutura espacial. Descobrimos que ao longo do tempo, todos os índices socioeconômicos melhoraram, especialmente em municípios com níveis intermediários de cobertura florestal. Também encontramos uma relação quadrática entre cobertura florestal e desenvolvimento socioeconômico. Em relação à segurança alimentar, a pobreza e a desigualdade foram os principais fatores influentes, e também observamos uma relação quadrática com a cobertura florestal. Não encontramos uma relação direta entre mudanças populacionais e ambientais na Caatinga, mas fatores como oportunidades urbanas e rurais parecem influenciar as mudanças populacionais. Concluímos que o desmatamento pode trazer ganhos econômicos, desde que questões de desigualdade econômica sejam abordadas. No entanto, desmatar além de um certo limite não contribui para o desenvolvimento dos municípios e pode levar a piores condições socioeconômicas e de segurança alimentar, resultando, inclusive, em despovoamento de áreas rurais da Caatinga. Portanto, é crucial considerar as dinâmicas ambientais e populacionais, juntamente com medidas de combate ao desmatamento e redução da pobreza e desigualdade, ao planejar projetos de desenvolvimento sustentável na região.