Pesca, território e cotidiano: uma compreensão coletiva dos bens culturais de Jaguaribe

Abstract

Este trabalho tem como objetivo central investigar Jaguaribe, localizado no município da Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, como um território de tradição pesqueiro, reforçando a importância da preservação e salvaguarda de seus bens culturais. Parte-se da justificativa de que Jaguaribe, assim como muitas outras Comunidades Tradicionais Pesqueiras pelo Brasil, enfrenta riscos e ameaças à sua cultura e território e falta de reconhecimento e de visibilidade por parte do poder público. Tomando como base o Projeto de Lei n. 131/2020, que considera que a caracterização das comunidades tradicionais pesqueiras será atestada mediante auto definição das próprias comunidades, este trabalho tem um caráter provocativo e investigativo, não tendo a pretensão de ser um instrumento definidor de identidades, mas sim um meio de busca ativa e de reconhecimento. Para chegar ao objetivo geral, buscou-se compreender, ao longo do trabalho, o território de Jaguaribe por meio de três dimensões: das espacialidades, das dinâmicas sociais e das subjetividades, definidas por Ulpiano Bezerra de Menezes (2006) respectivamente como, a dimensão do Artefato, do Campo de Forças e das Representações Sociais. Para a compreensão dessas três dimensões, a pesquisa partiu de uma revisão bibliográfica, levantamento de dados secundários e do levantamento e mapeamento das referências culturais dos diversos grupos sociais que, por meio de suas práticas cotidianas, expressam neste território uma identidade marcada profundamente pela presença das águas do mar e dos rios que banham o bairro. O levantamento dos bens culturais de Jaguaribe foi amparado na metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais INRC-Iphan. Levantamento este que foi realizado durante 2 meses, contando com a colaboração e participação direta de moradores de Jaguaribe, por meio de entrevistas e aplicação de questionários. O levantamento produzido identificou bens culturais divididos em 4 categorias definidas pelo INRC-Iphan: Celebrações, Formas de Expressão, Ofícios e Modos de Fazer e Lugares e Edificações, que mostram uma relação direta com a cultura pesqueira. Evidenciou-se a pesca não somente como trabalho, mas como um modo de vida, que se reflete nas práticas cotidianas, nas relações sociais, nos espaços e na subjetividade da população de Jaguaribe. Mostrando, assim, uma cultura única, que tem valores positivos para si e para toda a sociedade, e que precisa ser identificada, reconhecida, valorizada e fortalecida. Vê-se como reforço para a ideia de salvaguarda de seu patrimônio material e imaterial, bem como de garantia e proteção do direito ao território, o reconhecimento de Jaguaribe como Território Tradicional Pesqueiro, cabendo à população sua autodefinição.