Relações históricas e diversidade funcional de atributos reprodutivos de árvores do cerrado brasileiro

Abstract

O cerrado possui uma história biogeográfica com eventos climáticos e geológicos que moldaram a vegetação moderna atual. Conhecendo a importância destes eventos na distribuição e composição florística da vegetação, consideramos que as características do cerrado, como a heterogeneidade na composição de espécies e os altos níveis de endemismo, são também reflexo de fatores biogeográficos. Com base nessa premissa, objetivou-se delimitar, baseado nas variações de composição da flora, as regiões de endemismo do cerrado e investigar o histórico de diferenciação dessas áreas, relacionando os aspectos biogeográficos encontrados a padrões ecológicos. Para isso foram levantadas as espécies arbóreas distribuídas em 121 quadrículas geográficas, que ocupam desde 08° de latitude norte a 25° de latitude sul. Essas espécies foram ainda classificadas quanto ao endemismo a vegetação. Com base no primeiro banco de dados de espécies arbóreas, foram efetuadas as análises do PAE e UPGMA para delimitação de regiões de endemismo. Utilizando a segunda matriz de espécies endêmicas por região de endemismo, foram procedidas análises de biogeografia histórica, PAE e CADE. Para a caracterização ecológica - reprodutiva da vegetação, de suas regiões de endemismo, bem como para investigar diferenças funcionais entre essas regiões quanto a esses aspectos, foram levantados os atributos reprodutivos das espécies arbóreas. Como resultados, delimitamos oito regiões de endemismo para a vegetação e, através de ferramentas da biogeografia, verificamos que essas regiões possuem conexão histórica evidenciada por espécies endêmicas arbóreas compartilhadas. Essas conexões revelam que manchas de cerrado no nordeste do Brasil e na região amazônica são áreas relictuais de um passado com maior dominância de formações vegetacionais abertas e que as áreas de cerrados entre as latitudes de 16° e 24° sul, correspondentes aos estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo, provavelmente são áreas cuja vegetação é mais antiga e centro de origem das linhagens endêmicas. A caracterização reprodutiva do cerrado e de suas regiões de endemismo revelam que as espécies possuem flores abertas, de cores claras, com síndromes de polinização melitofilia e diversos pequenos insetos. Diferenças funcionais-reprodutivas foram encontradas, em sua maioria, entre a região de endemismo ADA (áreas disjuntas amazônicas) e as regiões mais centrais do cerrado, resultado da história biogeográfica mais recente da primeira região, que está imersa na matriz florestal úmida.