Toxicidade da fração acomodada em água do óleo encontrado no litoral pernambucano em 2019 na ostra-de-fundo Crassostrea gasar (Adanson, 1757)

Abstract

Em agosto de 2019, o Brasil sofreu um dos maiores derramamentos de petróleo de sua história, com manchas de óleo atingindo praias do nordeste e espalhando-se ao longo da costa. O óleo foi coletado na Praia do Paiva e foi preparada uma fração acomodada em água (FAA) para ser utilizada em um experimento que avaliou efeitos tóxicos deste óleo através da exposição de ostras da espécie Crassostrea gasar, a FAA. As ostras foram expostas a diluições de 5% e 12,5% de FAA por um período de 96 horas, que correspondem a concentrações de uma soma de HPAs totais (ΣHPAt) igual a 8,5 e 21,8 ng-ΣPAHt L-1. Após o período de exposição, as brânquias e glândula digestiva foram dissecadas e armazenadas a -80 oC para análise de biomarcadores bioquímicos, incluindo as enzimas superóxido dismutase (SOD), glutationa S- transferase (GST), catalase (CAT), além da peroxidação lipídica (TBARs) e acetilcolinesterase (AChE). Os resultados demonstraram alterações importantes nas ostras expostas. Nas brânquias, foi observada uma redução significativa da atividade da SOD nas ostras expostas à diluição de 12,5%, enquanto na glândula digestiva, não houve mudanças significativas na atividade da SOD. Quanto à GST, a atividade dessa enzima foi induzida nas brânquias das ostras expostas à concentração mais alta de FAA (12,5%), no entanto, na glândula digestiva, a atividade da GST não apresentou alterações significativas em nenhuma das diluições testadas. A atividade da CAT não revelou mudanças estatisticamente significativas em ambos os tecidos. Já a enzima AChE apresentou uma diminuição de atividade nas brânquias das ostras, mas na glândula digestiva não foi observada alteração. Por fim, a peroxidação lipídica, medida pelos níveis de malondialdeído (MDA), nas brânquias apresentou uma redução, enquanto na glândula digestiva os níveis de MDA não mostraram diferenças significativas quando comparados ao grupo controle. Esses resultados indicam que a exposição a FAA do óleo em diluições iguais a 12,5% induz alterações bioquímicas significativas nas ostras, especialmente nas brânquias, afetando sua capacidade antioxidante e atividade enzimática.