Política industrial: entre ideologia, estratégia e desenvolvimento.

Abstract

Este trabalho tem como objetivo analisar a política industrial a partir de uma abordagem multidimensional, que contempla seus conceitos, instrumentos, trajetória histórica no Brasil e as disputas ideológicas que influenciam sua formulação. Parte-se da compreensão de que, embora a política industrial seja comumente associada a aspectos técnicos, trata-se de uma estratégia eminentemente política e condicionada por visões de mundo em disputa. Por meio de uma revisão bibliográfica abrangente, o estudo examina as principais correntes teóricas que influenciam a formulação da política industrial, contrastando as abordagens ortodoxas, que defendem uma intervenção estatal restrita, com as heterodoxas, que advogam por um papel ativo do Estado na indução do desenvolvimento e na transformação estrutural da economia. São também analisados os principais instrumentos de política industrial, como financiamento público, incentivos fiscais, proteção à propriedade intelectual e políticas regionais. No contexto brasileiro, são discutidas experiências emblemáticas, a exemplo da criação da Embraer e da política de medicamentos genéricos, bem como os principais programas governamentais implementados ao longo das últimas décadas. Frente às novas configurações globais, marcadas pela crescente necessidade de avanço tecnológico, pela emergência da sustentabilidade como agenda estratégica e pela reconfiguração das cadeias produtivas, o trabalho destaca a relevância das políticas industriais orientadas por missões, que articulam inovação, desenvolvimento e resposta a desafios sociais. Nesse sentido, a política industrial ressurge como instrumento central para a promoção da competitividade, da soberania nacional e da transição para um modelo de crescimento mais inclusivo e sustentável. Conclui-se que sua eficácia não deve ser medida apenas pela dicotomia entre liberalismo e intervencionismo, mas por sua capacidade de mobilizar atores, coordenar esforços e enfrentar os desafios estruturais do século XXI.