Caracterização e insights ecológicos do micobioma de caverna do cerrado na APA das nascentes do rio vermelho (Goiás)

Abstract

A Terra abriga diversos ecossistemas, incluindo ambientes extremos caracterizados por condições físico-químicas adversas, como pH, temperatura e disponibilidade de água. Mesmo nesses locais, os fungos desempenham um papel essencial no equilíbrio ecológico. O número total de espécies fúngicas ainda é incerto, mas estima-se que existam cerca de 2,5 milhões de espécies, das quais apenas 169 mil foram descritas. As cavernas, devido à sua estabilidade climática e baixa disponibilidade de nutrientes, são ecossistemas propícios para estudos sobre fungos, sendo fundamentais para o equilíbrio ambiental, na degradação da matéria orgânica e a formação estrutural desses espaços. No Brasil existem cerca de 23.000 cavernas conhecidas, e o Cerrado se destaca como um dos biomas mais ricos, com grande potencial para a descoberta de novas espécies. A Gruta do Penhasco, localizada na Área de Proteção Ambiental das Nascentes do Rio Vermelho (Goiás), é um ponto turístico ainda pouco estudado sob o aspecto microbiológico, justificando a necessidade de um inventário da micodiversidade local. Este estudo analisou a comunidade fúngica da caverna por meio de métodos morfológicos, moleculares e ecológicos. A caverna apresentou temperatura constante (22°C), umidade relativa do ar entre 75% e 80% e presença de cursos d’água em alguns pontos. A abundância fúngica foi maior no solo do que no ar, totalizando 827 Unidades Formadoras de Colônias (UFC). O filo Ascomycota foi predominante (81%), com destaque para os gêneros Cladosporium e Penicillium. A diversidade fúngica variou entre os pontos de amostragem, sugerindo influências microambientais na composição das comunidades. A análise de metabarcoding revelou a predominância do filo Ascomycota (97,2% das OTUs), com destaque para as classes Sordariomycetes (47,7%) e Dothideomycetes (15%). As ordens Hypocreales (13,1%) e Pleosporales (10,3%) foram as mais representativas. A composição química do solo indicou pouca variação de macro e micronutrientes, com pH neutro a levemente alcalino (7,2–7,5). A correlação entre a disponibilidade de nutrientes e ocorrência fúngica não foi estatisticamente significativa, sugerindo que fatores ecológicos, como adaptação às condições adversas e interações biológicas, desempenham um papel relevante na distribuição das espécies. A diversidade fúngica variou entre os pontos de coleta, com maior equilíbrio no P2 e forte dominância no P3. A similaridade entre os pontos foi baixa, evidenciando a heterogeneidade da comunidade fúngica. O estudo reforça a importância de

inventários microbiológicos em ambientes subterrâneos, contribuindo para a conservação da biodiversidade e a ampliação do conhecimento sobre fungos cavernícolas no Cerrado.