Processos imaginativos de educadora quanto à docência a crianças com a Síndrome Congênita do Vírus Zika

Abstract

A Síndrome Congênita do Vírus Zika (SCVZ) descoberta pela primeira vez no Brasil em 2015, acometeu 3.194 crianças entre os anos de 2015 e 2018 (BRASIL, 2018a), ocasionando nestas, um padrão de múltiplas deficiências, incluindo deficiência auditiva, visual, motora e cognitiva (BRASIL, 2017). Passados três anos desde o início da epidemia torna-se premente a discussão acerca da inclusão escolar dessas crianças. Conjecturamos que o caráter inédito da Síndrome e seu amplo espectro tornará a inclusão desse público um desafio para profissionais da educação em todo país. O objetivo da presente dissertação foi investigar o que e como imagina uma professora da Educação Infantil de uma escola pública do estado de Pernambuco, a respeito da docência a crianças com a SCVZ. Utilizamos como instrumento para construção de dados entrevistas semiestruturadas, e uma sonda cultural chamada por nós de Caixa de Surpresas, onde a participante pôde construir a partir do uso de objetos diversos tais como: papéis, colas, tecidos, etc, o que ela imagina acerca da docência a crianças com a Síndrome. O delineamento teórico e metodológico do estudo seguiu os pressupostos da Psicologia Cultural Semiótica, mediante a consideração da unicidade do sujeito e de seus processos psicólogos que se desdobraram ao longo do tempo irreversível. Os dados foram analisados mediante a utilização dos conceitos de Gegenstand, resistências e vetores de ação (VALSINER, 2014a; TATEO, 2017) que tomados enquanto categorias analíticas nos permitiram apresentar a dinâmica imaginativa da participante, em relação à docência de crianças com a SCVZ. Os resultados obtidos a partir desse estudo de caso apontaram que: de acordo com o que a profissional imagina, os fatores que mais dificultam na docência a crianças com a referida síndrome, são os problemas na estrutura física da escola; ausência de formações continuadas sobre a SCVZ; escassez de recursos didáticos e; falta de suporte por parte da gestão escolar e municipal. Porém gradativamente a docente buscou informações sobre a SCVZ, e observamos então uma transformação na sua dinâmica imaginativa, indo em direção a acreditar como possível a obtenção de êxito na docência a esse público. A partir das reflexões feitas nesse estudo idiográfico admitimos que os processos imaginativos propiciam adaptação e gerenciamento de situações incertas e desafiadoras, tal como a inclusão escolar de crianças com múltiplas deficiências em decorrência da SCVZ.