Metamorfoses programáticas no MST : inflexões político-estratégicas na conjuntura do “novo desenvolvimentismo” no Governo Lula

Abstract

Sem dúvida, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é uma das organizações, entre os segmentos subalternos, mais importantes na arena política do Brasil, tendo alcançado reconhecimento internacional pela impostação política contrária à orientação neoliberal que dominou a agenda dos Estados nacionais a partir da década de 1990, especialmente, na periferia do capitalismo. O histórico caráter classista e antissistêmico desse movimento social traz significados relevantes para a condição de organização política e fundamental no desenrolar da luta de classes na sociedade civil, bem como guarda determinações para a dinâmica particular da acumulação capitalista dependente. Essa posição de dependência, dirigida pela mundialização do capital, acentua o peso do setor primário exportador para o funcionamento da economia nacional, a qual reproduz reiteradamente as bases estruturais da questão agrária como marca da formação econômico-social do país: expropriação de terras, subalternização e superexploração dos trabalhadores rurais, empobrecimento de grande contingente da população rural, acentuada concentração fundiária, etc. É recorrente que, em análises acerca do processo de desenvolvimento organizativo do MST, pouco se atribua atenção para os horizontes estratégicos das programáticas que formulou, embora elas conformem um projeto político que detém direção social, além de estarem vinculadas a interesses de classe e assumirem uma dada perspectiva societária. A relação política e histórica que deteve com o Partido dos Trabalhadores (PT) trouxe, na conjuntura mais recente, implicações para a direção social e orientação político-estratégico do MST; isso se configurou a partir da chegada do partido ao comando do Poder Executivo do Estado. Assim, a relação aproximada com a gestão do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva trouxe, somada a um conjunto de outras mediações, inflexões na programática desse movimento social com rebatimentos na luta pela reforma agrária que historicamente pautou. Nesta tese, buscou-se analisar as transformações do projeto político do MST que inflexionou programaticamente no sentido da acomodação política junto a plataforma neodesenvolvimentista. Metodologicamente a pesquisa recorreu, entre outros recursos, ao exame tanto de documentos elaborados pelo MST quanto de entrevistas e textos publicados por membros de sua direção, além da avaliação de indicadores da relação com o Governo Lula e a aproximações com resultados de pesquisas desenvolvidas sobre a temática. As análises e problematizações no processo de reconstrução teórico-metodológico do movimento do objeto foram enriquecidas pelo universo categórico que tem implicações com questões acerca da/o: hegemonia, transformismo, revolução passiva, capitalismo dependente, capital agrário, Estado, luta de classes, reforma agrária, política agrária, desenvolvimento capitalista, etc.