Repertórios interpretativos sobre o Programa Bolsa Família : análise do período 2015-2018 através da mídia e da voz das beneficiárias da Zona da Mata Sul de Pernambuco

Abstract

O presente estudo visa analisar continuidades e mudanças nos posicionamentos das beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF) da Mata Sul de Pernambuco, no período 2015-2018. O enfoque da pesquisa é qualitativo. Primeiro, um estudo de mídias sobre o PBF foi realizado a partir da produção da Folha de São Paulo (FSP) e do site do Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) no período 2015-2018. Em seguida, entrevistas foram efetuadas com as mesmas beneficiárias do Bolsa Família em 2015 e 2018. A análise dos dados se baseou na perspectiva da Psicologia Discursiva. Os resultados indicam que certos repertórios interpretativos sobre o Bolsa Família veiculados pela mídia intensificam um clima de incerteza social e posicionam a seus beneficiários de forma negativa, através de uma série de mitos e estigmas. Já a análise das entrevistas mostra que as identidades das beneficiárias se constituem a partir de posicionamentos vinculados aos modos de vida tradicional (mãe, esposa, crente, agricultora) e moderno (comerciante, trabalhadora, pobre, beneficiária, consumidora, cidadã). Estes posicionamentos se originam em alguns repertórios interpretativos característicos dos paradigmas tradicional e moderno que compõem a ruralidade brasileira, conformando uma identidade complexa que se mostrou estável durante o período 2015-2018. Porém, as entrevistas de 2018 revelam que a crise econômica, a incerteza sobre a continuidade do PBF e o cenário de desmonte da política social, decorrentes do golpe de 2016, afetaram a qualidade de vida das beneficiárias e acentuaram uma situação de inclusão social precária. No âmbito político, as mulheres apresentam uma visão crítica acerca dos acontecimentos ocorridos no Brasil após o golpe de 2016. Finalmente, conclui-se que os posicionamentos assumidos pelas participantes constituem uma identidade positiva que lhes permite enfrentar a desqualificação social, contrapondo-se a discursos sociais estigmatizantes potencializados pela grande mídia.