Análise da implantação do Programa Saúde na Escola na perspectiva da promoção da cultura de paz e prevenção da violência

Abstract

Ao considerar que o processo de desenvolvimento humano durante a adolescência é marcado por rápidas mudanças que requerem constantes adaptações do indivíduo no contexto em que ele se insere com implicações nas etapas subsequentes do curso da vida. O Programa Saúde na Escola (PSE) visa garantir uma formação integral dos adolescentes da rede pública de ensino, com ações intersetoriais de promoção, prevenção e atenção à saúde, mediante enfrentamento das vulnerabilidades, que implicam em prejuízos ao pleno desenvolvimento dos escolares. Cabe reconhecer a situação de vulnerabilidade das escolas, aos vários tipos de violência, que concorrem para desconfigurar o local como um ambiente de formação cidadã. Dessa forma, é importante a análise das ações de promoção da cultura de paz e prevenção de violência. O objetivo do trabalho foi avaliar a implantação do PSE na perspectiva da promoção da cultura de paz. A pesquisa de método misto que utilizou o estudo de caso único para avaliar diferentes níveis de análise sobrepostos na implantação do PSE. Na abordagem quantitativa participaram 87 profissionais entre saúde e educação envolvidos com o PSE no município de Recife-PE. Foram aplicados questionários semiestruturados para coletar dados de caracterização, de estrutura e processos quanto à implantação do PSE. A análise dos dados aconteceu utilizando uma matriz de julgamento que se baseou no modelo lógico e na matriz de indicadores, criados a partir dos dispositivos legais, para mensurar o grau de implantação do PSE. A abordagem qualitativa foi realizada para análise do contexto da implantação, com a inclusão 34 entrevistas envolvendo gestores, profissionais da saúde e educação, delimitados pela técnica de saturação. Foi realizada análise de conteúdo das falas a partir da perspectiva da hermenêutica-dialética. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa, sob o CAAE nº 70798617.2.0000.5208 e do parecer nº 2.250.303. Na avaliação do PSE obteve-se uma média entre os entrevistados representantes dos distritos sanitários de 75,29%, que correspondeu a uma classificação satisfatória da implantação. Na abordagem qualitativa prevaleceu entre os pesquisados o sexo feminino, e a idade superior a 51 anos. Em contraponto com os discursos foram identificadas oito categorias de análise, desde a percepção de como ocorreu o processo de implantação do PSE até o diagnóstico de necessidade da educação permanente dos profissionais envolvidos. Em relação às temáticas abordadas nas ações de educação em saúde com os escolares, a violência não constituiu uma prioridade entre os discursos, prevalecendo o enfoque biológico, apesar dos profissionais (78,2%) da saúde e da educação reconhecerem os problemas gerados no contexto intra e extraescolar por situações de violência. A implantação do PSE foi avaliada satisfatória, entretanto foram evidenciados entraves, que necessitam serem apreciados pelos gestores, para melhoria da estrutura e dos processos necessários para avanços no desenvolvimento das ações de promoção à saúde universal, integral e equânime da comunidade escolar. Em consonância com o cenário mundial, cabe à sensibilização quanto à incorporação do enfermeiro escolar, como profissional articulador e mobilizador no enfrentamento sistemático das questões de violência e promoção da cultura de paz junto a esse grupo populacional.