"É a escola dos meus sonhos, mas não é a escola pública" : o que (des)aparece no currículo entre desejos e fantasias

Abstract

As subjetividades contribuem para a abertura de sentidos sobre currículo, escola e profissão docente, elegendo outras maneiras de pensar, fazer e disputar a educação escolar e o lugar da escola na sociedade contemporânea. Reivindicam outro olhar sobre o currículo, considerando-o em limites amplos no atual debate sobre a Educação e a Pedagogia. O currículo não somente diz o que ensinar e a quem ensinar, mas também sobre quem pode dizê-lo e quem pode o constituir. Cada professora no exercício em sala de aula articula decisões sobre a prática curricular. Nesse sentido, o principal objetivo desta pesquisa foi compreender como professoras servidoras públicas dos anos iniciais da educação básica constituem subjetividades coletivas que estruturam e mobilizam sentidos em torno da prática curricular. A pesquisa desenvolveu entrevistas com um total de cinco professoras participantes na condição de voluntárias. As professoras são formadas em Pedagogia e atuam enquanto servidoras públicas de escolas da rede de ensino municipal de cidades de Recife (PE) e de Paulista (PE). O desenvolvimento teórico e metodológico foi situado nos estudos pós-estruturalistas com ênfase no debate em torno da teoria do discurso e suas contribuições possíveis para o campo da educação. Os resultados apontaram que as professoras constroem uma imagem de si (ethos) que dinamiza as fantasias do experimento do herói e do justo ofício. No atual contexto de disputa política para a constituição de um currículo nacional vinculado a uma identidade docente, esta pesquisa aponta para a fragilidade de um fechamento discursivo no que diz respeito a produção de subjetividades que concorre com projetos escolares que intensificam uma ordem discursiva que atua enquanto dispositivo de controle da prática curricular que se institui hegemonicamente no fortalecimento de perspectivas unitárias do contexto da educação. As considerações apontam que os sentidos sobre “formação” são deslocados, e que os significantes “ensino” e “docência” ganham novas conotações de significado quando se introduz o debate em torno das subjetividades coletivas para pensar o currículo no contexto da prática e do trabalho docente.