Diversidade de fungos zigospóricos em áreas nativas e antropizadas da Mata Atlânticado do Nordeste brasileiro

Abstract

O domínio Mata Atlântica é conhecido pela ampla biodiversidade e por apresentar elevado número de espécies endêmicas de grupos taxonômicos variados, incluindo os fungos. Entretanto, os diferentes processos de antropização têm causado desequilíbrio nos ecossistemas desse domínio no Brasil com consequentes alterações na dinâmica popupalacionalda fauna, flora e funga. Dentre os fungos presentes no solo da Mata Atlântica, destacam-se os zigospóricos, caracterizados pela produção do zigósporo, esporo sexuado produzido por copulação gametangial. Estudos sobre a taxonomia e ecologia dos fungos zigospóricos em áreas de Mata Atlântica do Brasil são fragmentados, tendo sido principalmente desenvolvidos nos estados de São Paulo e Pernambuco, não existindo dados robustossobre a ecologia e estruturação das comunidades desses fungos, principalmente no que refere aos efeitos da sazonalidade e da antropização. Dessa forma, esse trabalho teve como objetivos determinar e comparar a diversidade, frequência de ocorrência e a riqueza de espécies de fungos zigospóricos entre as áreas de coleta; avaliar a influência da antropização e da sazonalidade nos parâmetros estruturais das comunidades de fungos zigospóricos estudadas; elaborar uma chave de identificação morfológica de fungos zigospóricos do solo das áreas de Mata Atlântica inventariadas. Duas expedições de coleta foram realizadas, na Reserva Biológica de Pedra Talhada (REBIO), em Alagoas, e no Parque Nacional Histórico do Monte Pascoal (PARNAH), na Bahia, em períodos de chuva e seca, em zonas nativas e antropizadas. Para o isolamento, cinco miligramas de solo foram espalhados na superfície do meio ágar gérmen de trigo adicionado de cloranfenicol em placa de Petri. Foram identificadas 33 espécies de fungos zigospóricos pertencentes às ordens Mucorales (30 espécies), Umbelopsidales (duas) e Zoopagales (uma), sendo a maioria das espécies pouco frequentes ou raras nos solos estudados. No entanto, Cunninghamella elegans foi muito frequente, tanto no solo da REBIO, quanto no do PARNAH, enquanto Absidia sp. 3 foi muito frequente no solo da REBIO e Backusella lamprospora e Mucor circinatus foram muito frequentes no solo do PARNAH. Os dados ecológicos e estatísticos mostraram que os processos de antropização e sazonalidade não influenciaram na riqueza de espécies de fungos zigospópricos do solo da REBIO e do PARNAH. No entanto, a sazonalidade influenciou na diversidade dos fungos zigospóricos no solo das duas áreas, já que a diversidade foi elevada no período chuvoso, enquanto a antropização parece não influenciar na diversidade desses fungos nessas duas áreas. A composição de espécies de fungos zigospóricos no solo da REBIO e do PARNAH também foi influenciada pela sazonalidade, já que solos coletados nos períodos secos ou chuvosos foram mais similares, independente de serem provenientes das zonas nativas ou antropizadas. Duas espécies novas foram identificadas (Syncephalis alagoensis e Gongronella sp. 3), enquanto Umbelopsis ovata e Backusella indica estão sendo citadas pela primeira vez para o Brasil e Mucor inaequisporus está sendo reportada pela primeira vez para o nordeste do país. Outras seis prováveis novas espécies foram isoladas e estão em processo de sequenciamento das respectivas regiões (ITS e LSU) do rDNA para a confirmação genética desses isolados.