Radônio-222 e a ocorrência de câncer de pulmão em municípios da Região Metropolitana de Recife com afloramentos de fosforito uranífero

Abstract

De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa do Câncer, o gás carcinógeno radônio-222 contribui com cerca de 55% da radiação incidente sobre o indivíduo, sendo a principal fonte de radiação natural proveniente do urânio-238 contido em solos e rochas. Esse gás pode ser exalado para atmosfera, acumulando-se em ambientes fechados de modo a representar um risco potencial à saúde humana quando inalado, por ser capaz de lesionar o DNA e comprometer o sistema respiratório. Também é considerado a segunda causa de câncer de pulmão após o tabagismo. O objetivo deste trabalho foi analisar a contribuição das concentrações de radônio na atmosfera das residências e águas de cacimbas de munícipios com afloramentos de fosforito uranífero na Região Metropolitana do Recife (RMR) sob o risco de ocorrência de câncer de pulmão. Para isso, a atmosfera nas residências foi monitorada por detectores CR-39 por um período que variou de três a seis meses, sendo após esse período, revelados quimicamente para visualização dos traços formados pelas partículas alfa que foram contados pelo programa MATLAB®. As estimativas do percentual de mortalidade de indivíduos adultos, assim como das doses efetivas e equivalentes anuais e do aumento do risco de desenvolver câncer de pulmão associado ao radônio, foram calculadas de acordo com as concentrações do gás na atmosfera das residências. As águas foram coletadas de poços domésticos, sendo diretamente injetadas (12 ml) no coquetel cintilador e analisadas pelo Espectrômetro de Cintilação Líquida de Ultrabaixa Radiação de Fundo. Os solos foram analisados por meio da Espectrometria Gama de Alta Resolução, após coleta, passou por secagem, cominuição e armazenamento por 30 dias até atingir equilíbrio secular. Estudo epidemiológico foi também delineado a partir da compilação do número de casos de câncer de pulmão e estômago disponibilizados pelo Setor de Epidemiologia da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco. As concentrações de radônio encontradas nas residências dos municípios variaram de 2 a 1174 Bq m-3, sendo, em maior parte, superiores aos limites propostos por agências internacionais (máximo de 300 Bq m-3). As respectivas doses efetivas calculadas variaram de 0,39 a 9,5 mSv ano-1, as doses equivalentes de 3,4 a 22,8 mSv ano-1 e o aumento de risco de desenvolver neoplasia pulmonar relacionada ao radônio variou de 10 a 60%. A taxa de óbitos por este tipo de câncer foi estimada em 1,4 a 3,2%. Quanto à ingestão de água de cacimbas, os valores obtidos entre 17 e 76 Bq L-1 também foram indicativos de riscos aos habitantes dos bairros monitorados. Com relação ao solo foi observada baixa contribuição para dose efetiva das concentrações de atividade de Ra-226 e Ra-228. Desse modo, a pesquisa proporcionou resultados inéditos sobre as estimativas regionais de incidência de câncer de pulmão, permitindo definir e priorizar a proteção da saúde em áreas de ocorrência uranífera habitadas.