Abordagem etnofarmacológica na busca de alternativas terapêuticas para tratamento de Diabetes mellitus e suas comorbidades

Abstract

Apesar do acesso às terapias médicas convencionais, o uso da medicina complementar vem crescendo em muitas comunidades, tornando relevante analisar os aspectos que estão envolvidos com a saúde das pessoas que utilizam plantas medicinais como alternativa e em que ponto elas se encaixam no tratamento do diabetes, sendo possível avaliar o conhecimento etnofarmacológico de um grupo cultural em relação à flora disponível. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento popular sobre as plantas medicinais utilizadas no tratamento do diabetes e suas comorbidades, em comunidades rurais do município de Vitória de Santo Antão-PE, a fim de compreender como diferentes comunidades no mesmo ecossistema constroem sua farmacopeia local. O entendimento de como as plantas medicinais atuam no sistema médico tradicional foi avaliado por meio de entrevistas semiestruturadas. A importância relativa foi calculada com base no percentual de citação (IR%). Para o cálculo da similaridade foi utilizado o Índice de Sorensen (Ss). O modelo de redundância utilitária utilizou o Índice de Redundância Utilitarista para indicação terapêutica (Uredit). O conteúdo de fenóis totais, taninos, flavonoides e cumarinas foram avaliados por métodos espectrofotométricos. A atividade antioxidante foi avaliada pelo ensaio quelante do íon ferroso (FIC) e a captura do radical DPPH. Para atividade antidiabética utilizou-se o ensaio de inibição enzimática da α-amilase. As entrevistas foram realizadas com 141 pacientes, destes, 83 relataram o uso de plantas medicinais como alternativa de tratamento. No total, foram mencionadas 186 plantas, abrangendo 61 espécies, pertencentes a 59 gêneros e 42 famílias. As espécies mais comumente mencionadas foram Syzygium jambolaum (Lam.) DC. (azeitona) e Cissus sicyoides L. (insulina). Em relação ao IR%, Mentha x villosa apresentou o maior valor. Também foi possível observar a diferença entre as comunidades, que apesar de pertencerem ao mesmo bioma, não apresentaram comportamento semelhante em relação ao recurso vegetal aplicado. Na maioria das comunidades, os valores de Uredit foram de baixos a intermediários (< 10), também este valor se aproximou do NSp (número total de espécies), sugerindo que a indicação dessas espécies é pouco compartilhada entre as pessoas. Os maiores valores de fenóis totais e taninos foram observados no extrato das folhas de Syzygium jambolanum e em relação ao conteúdo de flavonoides e cumarinas, o extrato das folhas de Morus nigra obteve os maiores valores em ambos. Para o ensaio FIC destacaram-se as espécies Cissus sicyoides (insulina) e Syzygium jambolaum (azeitona), com valores de CE₅₀ 0,341 ± 0,023 mg/mL e 0,331 ± 0,0048 mg/mL, respectivamente, sendo estatisticamente semelhantes. O extrato das folhas de Syzygium jambolaum obteve melhores valores na capacidade de captura do radical DPPH, com uma CE₅₀ de 70,87 ± 2,72 µg/mL. Quanto à inibição enzimática, o extrato de Bauhinia cf. monandra apresentou melhor valor de IC₅₀ (0,778 ± 0,014 mg/mL), não apresentando diferença significativa estatisticamente dos extratos de Syzygium jambolanum e Lippia alba. O conhecimento dos fatores que influenciam a seleção das plantas medicinais esclarece os mecanismos pelos quais os padrões de uso se desenvolvem e pode ajudar a preservar esse conhecimento e manter a farmacopeia de cada comunidade.