O papel de documentos curriculares, livros e outros materiais didáticos nas práticas de ensino da língua escrita de professoras da Educação Infantil.

Abstract

Vivemos em uma sociedade na qual a escrita está presente em todos os lugares e, por isso, é parte fundamental da vida das pessoas. Tal tendência não é indiferente às crianças, cujo contato com a língua escrita se inicia antes mesmo de ingressar no espaço escolar. Mas, apesar disso, constantemente põe-se a questão a pertinência do ensino da língua escrita na Educação Infantil. Entendemos que não se pode negligenciar o direito de as crianças aprenderem sobre a escrita e sua função social. À vista disso, o presente trabalho teve por objetivo investigar o papel que documentos curriculares, livros e outros materiais didáticos desempenham nas práticas de ensino da língua escrita adotadas por professoras da Educação Infantil de escolas de redes municipais de Pernambuco. Como lentes teóricas sobre a realidade, buscamos o auxílio em Morais (2012), Soares (2011), Brandão e Leal (2010) e Morais e Silva (2010), que nos ajudaram na compreensão do complexo Sistema de Escrita Alfabética, o SEA, e dos seus processos de ensino e de aprendizagem; Morais, Silva e Nascimento (2020), que discutem a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL/MEC, 2017), o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL/SEF, 1998),;Brandão e Leal (2013) e Nogueira (2019), que nos permitiram reflexões acerca do tratamento da língua escrita em documentos oficiais/curriculares na Educação Infantil; e, por fim, Brandão e Silva (2017), Corsino e Branco (2016) e Araujo e Silva (2021), que nos ajudaram na discussão acerca dos livros e de outros matérias didáticos na Educação Infantil. Em nossa metodologia, adotamos uma abordagem qualitativa e, para geração de dados, utilizamos a “sondagem de opinião”, através de um questionário com perguntas abertas e fechadas, a partir do que propõe Minayo (2007). Para análise e discussão dos dados, utilizamos, também, a análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2004). Participaram de nosso estudo 20 professoras das redes municipais de ensino das cidades de Caruaru, Jaboatão dos Guararapes, Recife, Toritama, São Caetano e Catende, todas cidades pernambucanas. Em nossos resultados, chegamos à conclusão de que o ensino da língua escrita parece ser realizado por, ao menos, 75% das respondentes, por meio de práticas em que alfabetização e do letramento caminham juntos. Também percebemos que os documentos oficiais, sobretudo a BNCC, e livros e outros materiais didáticos tem influência nas práticas de ensino da língua escrita desenvolvidas pelas professoras, embora não seja direta e linear, na qual tais dispositivos atuariam determinando os fazeres docentes. Quanto aos documentos curriculares e suas influências nas práticas de ensino, percebemos que havia um reconhecimento da importância da existência de currículos e que 80% das respostas das professoras indicaram que a BNCC era utilizada para planejamentos diários, semanais, mensais e anuais. No que se refere aos livros didáticos, percebemos que estavam presentes nas práticas de 70% das professoras, que, apesar disso, apresentaram, em sua maioria, críticas contundentes a esses materiais. As professoras também mencionaram o uso de outros recursos didáticos, tais como livros paradidáticos/literários e jogos, que, ao estarem presentes em sala de aula, são indutores de práticas significativas de letramento e de alfabetização. Por fim, percebemos que, sim, é possível alfabetizar e letrar na Educação Infantil.