O uso de práticas de curadoria digital como instrumento de preservação da memória de um terreiro de candomblé: o caso Ilê Asé Sango Ayrá Ibonã

Abstract

A história de opressão e desumanização sofrida pelos povos africanos ao longo da diáspora inclui estratégias de apagamento da identidade e da subjetividade, como o uso simbólico da "árvore do esquecimento". No entanto, os terreiros de Candomblé resistiram a esse processo, mantendo viva a ancestralidade africana e preservando a memória por meio da tradição oral e dos sigilos ligados ao sagrado e aos conhecimentos ancestrais. Todavia, com a capitalização das tecnologias da informação e da comunicação nas religiões de matriz africana tem ocasionado preocupações, os impactos causados à produção da memória dos terreiros a partir da sua existência digital nas redes e sobre o futuro da produção documental digital dessas comunidades nas mídias digitais. Dessa maneira, o trabalho propôs por meio da análise da produção documental digital do Ilê Asé Sango Ayra Ibonã disponibilizada nas plataformas YouTube e Blogspot um modelo de Curadoria Digital aplicável a um terreiro de candomblé. O método de estudo de caso foi escolhido devido à sua capacidade de investigar fenômenos contemporâneos em contextos complexos, enquanto a observação participante é usada para imergir na vida da comunidade do terreiro. Assim, a análise concentrou-se na produção digital do terreiro, incluindo vídeos, textos e imagens, e avalia critérios como respeito à tradição oral, custódia dos ativos digitais e estratégias de preservação. Observou-se que mesmo sem a existência de um protocolo formal estabelecido para orientar o compartilhamento nas mídias digitais, o terreiro mantém os princípios essenciais que permitem a preservação da memória das comunidades de terreiro, além disso, o terreiro carece de um conjunto de práticas que possibilitem a otimização e organização das atividades de produção e compartilhamento de conteúdo e também garanta a preservação da memória digital do Ilê Asé Sango Ayra Ibonã. Como resultado de pesquisa foi proposto um modelo de curadoria digital baseado no ciclo apresentado pelo CDD como procedimentos a serem adotados nos ativos digitais do terreiro em todo seu ciclo de vida útil. Portanto, foi possível chegar à conclusão de que a curadoria digital pode ser implementada em um terreiro e que por meio dela os pilares do candomblé são reforçados no contexto digital, a fim de fortalecer as ações de preservação da memória afrodiaspórica.