Habitação Social e cidade : a contribuição de Héctor Vigliecca em São Paulo entre 1991-2012

Abstract

Esta pesquisa se propõe a refletir sobre as formas de projetar conjuntos de habitação social no contexto dos centros urbanos já consolidados. Para isso, considera os desafios de intervir na cidade e a prerrogativa de obter resultados alternativos de maior qualidade, frente as últimas experiências dos programas a nível federal, os quais apesar dos números expressivos, foram alvo de duras críticas. Algumas das principais argumentações se referem à implantação dos conjuntos em áreas periféricas, afastadas dos centros urbanos, o que contribui para a exclusão social e para a falta de acesso a serviços básicos, além da padronização de tipologias, muitas vezes inadequadas às necessidades dos moradores e que não levam em conta as características do entorno. Tais questões trazem à tona o desafio de projetar habitação do ponto de vista de desenhar cidade. Nesse sentido, interessado no fazer arquitetônico contemporâneo e nas interfaces entre as disciplinas da arquitetura e desenho urbano, este trabalho busca elucidar processos de projetação recentes que levam em consideração as características do entorno de modo a apontar alternativas à ideia de edifício enquanto objeto isolado. Para tal, serão analisados alguns dos projetos desenvolvidos pelo arquiteto Héctor Vigliecca em São Paulo, identificados em consonância com esse panorama. O trabalho inicia com uma breve revisão histórica da habitação social, até chegar as formas de tratativa nacionais mais recentes. Posteriormente, introduz discussões acerca do desenho urbano, fomentadas sobretudo a partir dos debates dos anos 1960 e 1970, os quais coincidem com o período de formação do arquiteto, aprofundado em um terceiro momento, juntamente com as suas influências. A análise de cada conjunto foi amparada, inicialmente, a partir de três escalas: 1) Escala cidade; 2) Escala vizinhança e 3) Escala conjunto. O estudo das obras a partir da ótica do desenho urbano possibilitou a identificação e estruturação da última escala (conjunto) em seis categorias: a) implantação e programa; b) acessos, eixos de circulação e integração; c) legibilidade e restruturação urbana; d) vazios consistentes; e) inserção e coligação das novas edificações e f) apropriação social e situação atual. Por fim, de modo a contribuir para reflexão acerca da produção de conjuntos que busquem requalificar e integrar as escalas cidade-conjunto-edifício-unidade, são elencados cinco princípios projetuais: (1) reinterpretar o programa; (2) ler o lugar (topografia, atributos naturais e a pré-existência); (3) Remover para criar condições urbanas representativas; (4) construir vazios de transição e sociabilização; e 5) Realizar suturas urbanas e edilícias com eixos de integração.