A MULHER QUE TOCA FORRÓ : relações de gênero e performance musical de cantoras e instrumentistas/Socorro & Mazé, Terezinha do Acordeon e As Januárias

Abstract

O forró tornou-se um símbolo identitário e de pertencimento sociocultural, um gerador de sociabilidades, de compartilhamentos de ideias, sentimentos, visões de mundo. Sua poesia decanta a festa, a saudade, o romance, a comida e costumes de um povo. Contudo, tem sido também um ambiente de disputas, de embates e de desigualdade de gêneros. Nas letras de suas canções podemos encontrar pensamentos e posicionamentos de opressão, como o machismo, o sexismo e a objetificação da mulher, exercendo influência direta e indiretamente nas relações do contexto do forró. Estes aspectos me levaram a desenvolver junto ao PPGM/UFPE uma investigação que pudesse sanar minhas inquietações sobre este tema. Desta forma, como objetivo principal, este trabalho investigou quais as implicações entre as relações de gênero e a performance musical da mulher que toca forró. Enquanto objetivos específicos: analisei o espaço e a atuação da mulher musicista atualmente no ambiente sociocultural do forró; busquei compreender a atuação de mulheres no decurso histórico do forró desde os anos de 1940; averiguei a relação do forró com a formação musical das artistas; examinei quais as principais influências que trouxeram essas mulheres musicistas para a prática do forró; e investiguei e analisei as relações de gênero e problemas implicados (machismo, preconceito, conflitos, etc.) no ambiente da performance musical. Para tal, além de pesquisa historiográfica e bibliográfica, foi realizado um trabalho de campo etnográfico em que acompanhei a performance e colhi depoimentos das musicistas pernambucanas Socorro & Mazé, As Januárias e Terezinha do Acordeon, dentro do período em que esta pesquisa foi realizada, com intenção justamente de compreender o processo de inserção da mulher musicista no contexto sociocultural do forró. A fundamentação teórica foi construída a partir da visão de autoras como Lucy Green, pioneira em estudos sobre música e gênero, e Ellen Koskoff, que defende a necessidade de uma etnomusicologia feminista. Para análise das letras de canções, embasei-me também a noções desenvolvidas por Antonio Candido. Por fim, pude entender este cenário, no qual as mulheres ocupam um ambiente que, culturalmente, não é aceito pelo patriarcado, e que, a partir de sua performance, se cria um confronto/enfrentamento, ressignificando este mesmo espaço, quebrando, mesmo que momentaneamente, ideias de cunho machistas e sexistas.