Rupturas-transições no processo de envelhecimento em um grupo social de pessoas idosas no contexto da pandemia da covid-19

Abstract

Rupturas e transições fazem parte do processo de desenvolvimento ao longo de toda vida. A complexidade das transições envolve desde mudanças na vida cotidiana, de natureza microssocial e intergrupal, contemplando mudanças nas ideias, crenças e pensamentos, no campo das representações sociais, até transformações macrossociais, que afetam dinâmicas societais. O presente estudo teve como objetivo analisar o processo de desenvolvimento de pessoas idosas a partir de transições (processo de mudança/estabilidade) relacionadas à ruptura da pandemia da COVID-19. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com a participação de 73 pessoas idosas, na maioria mulheres, domiciliadas no município de São Lourenço da Mata - PE, que frequentavam um grupo social na comunidade. Foram aplicados três instrumentos de pesquisa: (a) um questionário de levantamento sociodemográfico; (b) a Técnica de Associação Livre das Palavras, usando a expressão “pandemia da covid-19” como termo indutor, e o software Iramuteq (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) para tratamento das respostas; e (c) entrevistas semiestruturadas cujos relatos foram analisados a partir de uma abordagem microgenética, interligando episódios individuais a práticas sociais relacionadas às condições macrossociais. Os resultados indicam que a pandemia de COVID-19 e eventos como a viuvez e a separação conjugal constituíram rupturas significativas no percurso de desenvolvimento dos entrevistados e das entrevistadas, gerando perdas em face de restrições no campo interacional e mobilização de intensa carga afetiva. O estudo, no entanto, também revelou ganhos associados à aprendizagem de novas habilidades e ressignificações no campo das ações, relações e pensamentos individuais e coletivos. Os resultados convocam um olhar atento e interessado dos diferentes setores da sociedade, especialmente da academia, para produção de conhecimento e intervenções que garantam às pessoas idosas o acesso a recursos sociais e simbólicos favoráveis ao enfrentamento de crises, assim como oportunidades para novas aprendizagens e desenvolvimento ao longo de todo o curso da vida.