O Mundaneum da Sudene e a Documentação do Nordeste brasileiro

Abstract

A explosão bibliográfica resultante do crescimento científico e técnico impulsionado pelas duas grandes guerras mundiais levou pesquisadores e cientistas a buscarem soluções para gerir e organizar o conhecimento gerado. Esse processo culminou, especialmente na década de 1960, no Brasil, com a criação de diversos centros de documentação para apoiar a gestão da informação. No Nordeste brasileiro, enfrentava-se uma outra "guerra" — a da seca, um dos maiores desafios da região, além das marcantes assimetrias regionais em relação ao Sul e Sudeste do país. Como resposta a essa realidade, foi criada, em 1959, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), sob a liderança do economista Celso Furtado, e, em 1960, o Centro de Documentação da Sudene, organizado pela bibliotecária Myriam Gusmão de Martins. Esta pesquisa tem como objetivo principal estabelecer uma correlação entre o Mundaneum da Sudene e o conceito de Mundaneum idealizado por Paul Otlet, explorando suas semelhanças e perspectivas no contexto da documentação, organização e disseminação da informação na década de 1960. Para alcançar esse objetivo, foram definidos quatro objetivos específicos que orientam o estudo. O primeiro é refletir sobre a influência dos intelectuais no desenvolvimento de um país, exemplificado pela contribuição de Celso Furtado na criação do Centro de Documentação da Sudene. O segundo é analisar a gênese, trajetória histórica e relevância do Centro de Documentação da Sudene, destacando suas principais contribuições para a gestão e preservação da memória do Nordeste brasileiro. O terceiro objetivo busca contextualizar o uso de Termos Coordenados (TC) no controle da informação na década de 1960. O quarto e último objetivo é evidenciar o protagonismo de Myriam Gusmão de Martins na criação do Centro de Documentação da Sudene, destacando sua visão inovadora na gestão e preservação da documentação do Nordeste. Metodologicamente, a pesquisa é historiográfica e documental, realizada a partir de uma revisão teórica e análise de documentos históricos, como atas do Conselho Deliberativo da Sudene, depoimentos e entrevistas. A pesquisa também adota a Análise de Conteúdo (AC) para interpretar os depoimentos e entrevistas de 11 entrevistados. Como técnica de coleta de dados, foi utilizada a estratégia amostral da "bola de neve". Para apoiar a reflexão, a pesquisa adota a perspectiva da “Epistemologia social” de Shera, com o objetivo de estabelecer aproximações entre o Mundaneum de Paul Otlet e o da Sudene. O estudo revela uma correlação indiscutível entre Celso Furtado, Myriam Gusmão de Martins e o desenvolvimento da Documentação no Nordeste, além de contribuir para a compreensão do cenário da Ciência da Informação em Pernambuco na década de 1960. O Centro de Documentação da Sudene, assim, representa um verdadeiro Mundaneum, tanto pela sua trajetória quanto pela preservação da memória do Nordeste brasileiro. Em síntese, o avanço de uma nação não se baseia apenas em sua estrutura econômica e social, mas também na capacidade de reconhecer a Documentação como um elemento estratégico para o seu desenvolvimento.