Concepção de ensino da leitura nos Programas de Formação Continuada PNAIC e Tempo de Aprender e as percepções dos professores sobre os impactos nas práticas pedagógicas

Abstract

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a concepção de ensino da leitura nos programas de formação continuada Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e Programa Tempo de Aprender, além de investigar como os professores analisam os impactos desses programas para suas práticas. Mais especificamente, a pesquisa busca identificar: (i) as concepções de ensino de leitura nos programas PNAIC e Tempo de Aprender; (ii) como os professores avaliam o processo formativo vivenciado por eles no PNAIC e no programa Tempo de Aprender; e (iii) como os professores analisam as contribuições dos programas PNAIC e Tempo de Aprender para a sua prática em relação ao ensino da leitura, após a implementação desses programas em Itaíba-PE. O estudo adota uma abordagem qualitativa exploratória, e, como técnica e instrumentos de coleta de dados, foi utilizada a análise documental, por meio da qual foram analisados os cadernos utilizados para a formação de professores alfabetizadores do PNAIC do ano de 2013, tendo como temática a área das Linguagens. Voltamos o nosso olhar para os cadernos dos anos 1, 2 e 3 no que diz respeito à leitura. Em relação ao Curso de Formação Continuada em Práticas de Leitura e Escrita do Programa Tempo de Aprender, analisamos, mais especificamente, 3 módulos que tratam do ensino da leitura: (i) o Módulo 2: Aprendendo a ouvir; (ii) o Módulo 3: Conhecimento alfabético; e (iii) o Módulo 4: Fluência. A entrevista semiestruturada foi gravada em áudio e posteriormente transcrita. A análise dos dados foi realizada com base na análise de conteúdo de Bardin (2004), e, como aportes teóricos para o tópico das concepções de alfabetização, nos ancoramos em Mortatti (2010), Soares (2019), Brandão e Leal (2005), Albuquerque, Morais e Ferreira (2010), Morais (2012) e Morais et al. (2012). Na dimensão das concepções de leitura e seu ensino, buscamos apoio em Solé (1998), Silva (2021), Koch e Elias (2023), Panichella (2015) e Kleiman (2016), dentre outros. A investigação demonstrou, como resultado, que o PNAIC se pauta em uma concepção de leitura interacionista, em que há a construção de significados, considera o processo da leitura complexo e faz uso de textos reais que circulam no meio social; já o Programa Tempo de Aprender, por sua vez, se pauta em uma concepção de leitura estruturalista, considera que este é um processo de simples aquisição, concebe a leitura como decodificação e faz uso de pseudotextos, não proporcionando, assim, a produção de sentidos. Em relação à avaliação dos dois programas, os participantes do estudo avaliaram positivamente o PNAIC e não apontam muitos aspectos positivos sobre o Programa Tempo de Aprender. No que se refere ao levantamento dos aspectos negativos, foram elencados apenas pontos referentes ao Programa Tempo de Aprender. Por fim, em relação às contribuições que os programas deixaram para as práticas docentes dos professores, a maioria das contribuições (18) citadas pelos participantes do estudo foram deixadas pelo PNAIC, em que os professores conseguiram nomear e descrever as situações. Por outro lado, acerca das contribuições deixadas pelo Programa Tempo de Aprender, apenas duas foram apontadas; os docentes conseguiram nomear, mas não conseguiram descrever as contribuições. Sendo assim, com base na análise dos dados, concluimos que o PNAIC conseguiu impactar na prática docente dos professores, sendo considerado por eles como um programa de formação que “deixou tudo bem amarrado”, tinha objetivos, traçava metas, dava o suporte para que o professor conseguisse realizar as propostas, o acompanhando, e cobrava o feedback das atividades realizadas em sala de aula; isso foi possível pois os encontros formativos aconteciam mensalmente. Já o Programa Tempo de Aprender, por sua vez, praticamente não causou impacto, sendo classificado pelos entrevistados como sendo um programa de formação “solto”, “vago”, que deixou a desejar e que não ofertou aos docentes nenhum encontro presencial. A formação que eles tiveram desse programa foi o Curso de Formação Continuada em Práticas de Leitura e Escrita, este ofertado no formato online.