Livros didáticos de alfabetização do PNLD 2023: tecendo reflexões sobre o que é proposto e o que fazem as docentes em suas práticas alfabetizadoras

Abstract

A presente pesquisa teve como objetivo analisar as propostas de alfabetização presentes em livros didáticos aprovados no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2023 e os usos que docentes fazem desse material em suas práticas pedagógicas. Como procedimentos metodológicos, realizamos a análise documental do livro A Conquista, da autora Isabela Carpaneda, de Língua Portuguesa, vol.1, utilizado na rede municipal do Jaboatão dos Guararapes em 2023; entrevistas semiestruturadas e observações das práticas de duas professoras que utilizaram o livro didático em suas práticas alfabetizadoras. O estudo, de abordagem qualitativa, teve como base a análise de conteúdo de Bardin (1977) na produção e análise dos dados. A análise documental indicou que o livro pesquisado sofreu modificações para se adequar às exigências requeridas pela Política Nacional de Alfabetização (PNA), instituída em abril de 2019, e revogada em 2023. As propostas de alfabetização destacam o trabalho com a instrução fonêmica a partir de atividades envolvendo a cópia e memorização de letras, palavras e fonemas, conjuntamente a outras atividades que buscam promover reflexões sobre os princípios do sistema de escrita alfabética (SEA). Em relação aos usos do livro pelas professoras participantes, os dados demostraram a autonomia das educadoras no uso do material de acordo com as especificidades de suas turmas, a partir de seus conhecimentos plurais e da construção de táticas (CERTEAU, 1994) com base em suas experiencias profissionais (TARDIF, 2022). Desta forma, uma professora subutilizou o livro enquanto outra o manteve como principal material em seu planejamento. Ambas as docentes, no entanto, apresentaram dificuldades no desenvolvimento de atividades do livro envolvendo os fonemas, optando pelo trabalho no nível das letras. Enfim, apesar do livro aprovado no PNLD 2023 ter legitimado as mudanças requeridas pela PNA no que se refere à redução da alfabetização à instrução fônica e à concepção de escrita como código, nas práticas cotidianas as professoras reinventam e reconstruíram as propostas do manual que receberam, não se limitando a atuarem como executoras das prescrições