Fungos endofíticos de anacardium occidentale em áreas de caatinga e cerrado : diversidade e estudo filogenético

Abstract

A associação entre plantas e microrganismos é conhecida há milhares de anos, promovendo diversos benefícios ao hospedeiro. Dos grupos fúngicos que participam dessas associações, alguns têm a capacidade de viver dentro de tecidos vegetais em toda ou determinada parte do seu ciclo de vida sem causar danos. Esses fungos, conhecidos como endófitos, além de beneficiar as plantas, possuem potencial em processos biotecnológicos. O Brasil possui a maior biodiversidade do mundo e seus biomas são considerados grandes reservatórios dessa diversidade. A Caatinga e o Cerrado são importantes ecossistemas e embora possuam características diferentes, ambos são afetados sazonalmente pela seca. Esses biomas compartilham o cajueiro (Anacardium occidentale), importante pelo seu valor econômico e biotecnológico. Esse estudo objetivou analisar e comparar a diversidade de fungos endofíticos em folhas e ramos de A. occidentale na Caatinga e no Cerrado. Para isso, foram coletadas, em cada área, folhas e ramos de nove árvores na estação seca, posteriormente foram submetidos à assepsia e utilizou-se 2.268 fragmentos. A identificação foi realizada por análises morfológicas e filogenéticas de sequências de DNA. No total, 1.781 fragmentos vegetais foram colonizados (89,3% na Caatinga e 67,7% no Cerrado) e 1.678 culturas de fungos endofíticos foram isoladas (958 na Caatinga e 720 no Cerrado). Os endófitos foram agrupados com base nas análises morfológicas e o gene mais indicado foi utilizado para amplificação do DNA, com 1.560 isolados identificados pelas análises filogenéticas e estes foram considerados nas análises ecológicas. A riqueza total de espécies endofíticas associadas a folhas e ramos de A. occidentale foi de 57 táxons (27 na Caatinga e 37 no Cerrado), todos fungos filamentosos e pertencentes ao filo Ascomycota distribuídos em 4 classes, 12 ordens e 21 gêneros. Avaliando os tecidos estudados, os ramos do Cerrado apresentaram maior riqueza (S=26), entretanto as folhas do mesmo bioma, apesar de apresentarem menor abundância (AA=160), obtiveram o maior índice de diversidade de Shannon-Wiener e de Simpson (H’=1,97, D= 0,79). Através do índice de equitabilidade, observou-se que a composição de espécies em cada variável não foi uniforme. A ordem mais frequente foi Diaporthales (76,01%) e o táxon predominante foi Diaporthe catimbauensis (42,6%). Analisando por área, na Caatinga os gêneros mais frequentes foram Diaporthe, Fusarium e Pseudofusicoccum e no Cerrado, Diaporthe, Cytospora e

Pseudofusicoccum. Através da identificação dos isolados, cinco novas espécies foram descritas para Diaporthe e uma para Cytospora, além de novas ocorrências e prováveis novas espécies em outros gêneros. Na composição de espécies, apenas sete foram compartilhadas entre as áreas, com sete gêneros exclusivos na Caatinga e oito no Cerrado, demonstrando que a comunidade endofítica é única em cada variável analisada. O recorte empregado com a metodologia foi eficiente, pois conseguiu recuperar uma riqueza de 84% das espécies esperadas. Este estudo demonstra uma elevada riqueza endofítica em Anacardium occidentale na Caatinga e no Cerrado, além de descrever novos táxons, contribuindo com as estimativas da diversidade fúngica nacional e global.