Avaliação dos danos genômicos no isópodo excirolana carangis van name, 1920 (crustacea) em praias arenosas de pernambuco, brasil

Abstract

Este estudo tem como objetivo estabelecer um protocolo de teste de micronúcleo para a espécie de isopoda Excirolana carangis e aplicar essa técnica para detectar danos genotóxicos resultantes da exposição a Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) presentes na fração solúvel em água (FSA) do petróleo bruto. Os espécimes foram coletados nas praias arenosas de Catuama e Forte Orange, localizadas no litoral norte de Pernambuco, Brasil. Os organismos foram transportados vivos para o laboratório. Alguns indivíduos foram utilizados para a extração de hemolinfa, realizada por punção do coração dos isópodes com um microtubo capilar. Em seguida, foram realizados três testes de esfregaço direto (ED) e coloração de lâminas para análise microscópica: 1. Giemsa com heparina sódica (GIE_CH); 2. Giemsa sem heparina sódica (GIE_SH); 3. May-Grünwald-Giemsa sem heparina sódica (MAY_SH). As células da hemolinfa foram analisadas quanto à presença de micronúcleos (MN), um biomarcador indicativo de potencial estresse ambiental. Outros espécimes foram mantidos para aclimatação em aquários sob condições controladas (salinidade 35, fotoperíodo 12h/12h, temperatura 27 ± 1 °C, aeração e alimentação diária). Após cinco dias, os indivíduos foram transferidos para frascos de vidro de 250 mL contendo 200 mL de água do mar ou soluções-teste (12,5%, 25%, 50% e 100% da FSA), juntamente com 25 g de sedimento do local de coleta. Essas condições foram mantidas por 96h, sem alimentação. Devido à volatilidade dos HPAs, adotou-se um teste semiestático, com renovação das soluções a cada 24h. Os HPAs foram identificados e quantificados nas soluções iniciais e finais por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas. Entre os protocolos testados, o esfregaço com Giemsa sem heparina sódica

(GIE_SH) mostrou-se o mais eficaz e prático. Os organismos expostos às soluções- teste apresentaram frequência média de micronúcleos significativamente diferente do

grupo controle (0,83 MN‰) e superior aos valores de referência (>3 MN‰), indicando contaminação em todas as diluições da FSA. Observou-se uma relação diretamente proporcional entre a concentração de HPAs e a frequência de alterações genotóxicas. Este estudo pioneiro fornece uma estimativa dos impactos causados pela presença desses contaminantes, destacando efeitos subletais e riscos potenciais à saúde das populações de Excirolana carangis. O uso de bioensaios e do teste de micronúcleo em isópodes se destaca por sua simplicidade, baixo custo, alta sensibilidade da espécie e capacidade de gerar dados confiáveis de forma rápida, facilmente replicáveis em monitoramentos em larga escala e aplicáveis a outras espécies sentinelas. Além de ampliar a compreensão sobre os impactos e níveis de contaminação que os organismos podem sofrer devido a atividades antrópicas, essa abordagem contribui para um monitoramento ambiental eficaz dos riscos genotóxicos e apoia o desenvolvimento de regulamentações para o controle e mitigação de concentrações tóxicas de compostos do petróleo em ambientes marinhos.