Murais pela democracia : design político e as campanhas eleitorais em Pernambuco (1979-1989

Abstract

No Brasil, durante o final dos anos 1970 e 1980, grande parte da sociedade se mobilizou em torno de movimentos políticos pelo restabelecimento da democracia. Nesse momento, artistas, designers e ativistas de esquerda criaram intervenções gráficas e murais de propaganda política em Pernambuco. Frequentemente reunidos em torno de brigadas artísticas, encontraram um meio de comunicação alternativo e eficaz diante das imposições da ditadura militar em vigor. Ocuparam os muros das cidades com uma narrativa visual que marcou a memória coletiva de seus moradores. Esta tese teve como objetivo investigar (localizar, registrar e analisar), sob o olhar do design, artefatos gráficos políticos criados, produzidos e veiculados nesse contexto (1979– 1989), especialmente os murais das campanhas eleitorais. A pesquisa constituiu-se de duas etapas, que corresponderam à construção da base empírica e à análise dos artefatos. Na Parte 1, foram realizadas entrevistas, visitas a acervos públicos e pessoais, pesquisas bibliográficas e documentais, observações sistemáticas, caminhadas exploratórias, mapeamento dos locais de veiculação e grupos focais com eleitores e militantes. Com a aplicação dessa metodologia, reuniram-se 290 peças, que formam o corpus da pesquisa. Em seguida, foi realizado um recorte e constituída a coleção de murais políticos, composta por 190 artefatos, a partir da organização do acervo, da construção da base de dados, da classificação dos murais, do desenvolvimento da Ficha de Identificação e da catalogação. Na Parte 2 da pesquisa, a abordagem foi situada no campo da história do design, assumindo-se uma perspectiva híbrida, que considera o objeto e seus processos de criação e produção, mas que é complementada pela ênfase no design como dispositivo mediador de discursos (Lees-Maffei, 2009; Lees-Maffei; Houze, 2010). Em busca de um método de análise pertinente, articulou-se uma experiência prática de design político à metodologia proposta por Rose (2001), que foi aplicada a fim de revelar discursos políticos compartilhados no espaço urbano pelos murais, com base em três elementos estruturadores: iconografia, representações textuais e temas relacionados ao contexto. A metodologia foi aplicada a dois recortes da coleção: a campanha do PMDB à prefeitura de Olinda, em 1982, e a campanha de Miguel Arraes ao governo de Pernambuco, em 1986. Argumenta-se que os murais reunidos em coleção, criados com a intenção de fazer propaganda alternativa de candidatos e partidos, também materializaram e compartilharam discursos políticos de democracia e liberdade no espaço urbano, evidenciados por meio de processos e recursos de design. Constituíram-se parte da construção de um novo sentido coletivo de sociedade idealizado com o fim da ditadura no país. Por fim, aponta-se que tanto os procedimentos adotados para a coleta de dados, a constituição e a sistematização da coleção de murais, quanto a abordagem teórica e a metodologia de análise aplicadas poderão ser utilizados em estudos futuros na área da história do design e, em especial, de design político. Como resultado, contribui-se com a salvaguarda e preservação dessa produção, que instituiu no estado de Pernambuco uma prática de design político; e a preencher parte das lacunas identificadas na história política e na história do design brasileiro