Geotecnologias Aplicadas à Epidemiologia: Análise de Sobreposição Espacial entre Peste e Variáveis Ambientais no Ceará

Abstract

A persistência da peste em regiões endêmicas está fortemente associada a condições ambientais, em especial onde microclimas favorecem a manutenção da bactéria e seu ciclo silvestre. No Brasil, essas regiões são normalmente de clima semiárido, onde prevalece o bioma caatinga. Um dos desafios para a vigilância e controle da peste no país é a necessidade de um direcionamento mais específico em áreas de risco. O último caso humano do Brasil ocorreu no Ceará em 2005. No entanto, em inquéritos sorológicos ainda há positividade nos cães (sentinelas). O objetivo desse estudo foi investigar a influência de fatores ambientais na dinâmica espacial da peste. Utilizando Sistemas de Informação Geográfica (SIG), este estudo avaliou como variações de compartimentos de relevo, precipitação, tempo de estiagem, vegetação, umidade, temperatura do solo e diferentes escalas de altitude influenciam a distribuição espacial de positivos de peste em áreas endêmicas do Ceará e como estão aglomerados. Para isso, foram cruzadas séries históricas de precipitação CHIRPS, dados de elevação (SRTM), reanálise atmosférica (ERA5- Land) e imagens de satélite (Landsat 7) com dados epidemiológicos do Sistema de Informação de Peste (SISPESTE) para visualização de sobreposição espacial, cálculos das taxas de positividade, análises de estimativa de densidade Kernel e de agrupamento espaço-temporal utilizando o software SaTScan. Os resultados revelaram padrões espaciais e sazonais claros de intersecção dos focos naturais da peste no Ceará com micro-habitats específicos, caracterizados por solos argilosos (>30%), NDVI (>0,4-0,5), umidade relativa do ar (>65%), altitude entre 550 a 650 m acima do nível do mar e temperaturas superficiais do solo entre (21-26°C). As localidades positivas para peste estavam significativamente associadas às condições descritas. Concluindo que há um mecanismo ecológico em cascata: altitude média → chuvas intensas → índice de vegetação elevado → áreas úmidas → temperaturas amenas → percentual de argila do solo elevado → aumento populacional de roedores → proliferação de pulgas. As informações produzidas trazem o potencial de melhorias do delineamento das áreas de risco no semiárido.