Desenvolvimento, caracterização e estudo dos efeitos da farinha dos resíduos de Ananas comosus L. Merril sobre o sistema cardiovascular de ratos com hipertensão espontânea

Abstract

Dados na literatura mostram que há uma estreita relação entre a hipertensão arterial e a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), gerando uma condição de estresse oxidativo. Os resíduos do abacaxi da espécie de Anana comosus L. Merril são fontes de compostos bioativos antioxidantes como flavonoides, vitamina C e compostos fenólicos, capazes de diminuir a pressão arterial e diminuir a resistência vascular periférica. Dessa forma, o objetivo desse estudo é produzir e avaliar os efeitos do tratamento da farinha dos resíduos do abacaxi (FAR) sobre alterações cardiovasculares de animais espontaneamente hipertensos (SHR). A FAR foi produzida a partir da secagem e moagem de um resíduo industrial da polpa de abacaxi e determinada a composição centesimal, concentração e bioacessibilidade in vitro de compostos bioativos. Para avaliação dos efeitos cardiovasculares sob tratamento da farinha, foram utilizados ratos Wistar e SHR com 13 semanas de idade. Todos os protocolos realizados foram aprovados pela CEUA/UFPE n°0053/2023. Os animais foram divididos em quatro grupos: W CT, W FAR, SHR e SHR FAR. Os grupos FAR foram tratados com uma solução de FAR (60 mg/Kg) e os grupos CT com solução controle (água destilada + cremophor) por via oral durante 21 dias. Em todos os grupos, foram analisados: massa corporal, circunferência abdominal (CA), comprimento nasoanal (CNA), comprimento nasocaudal (CNC), consumo hídrico e alimentar e pressão arterial indireta. Após 21 dias de suplementação, os animais foram eutanasiados e realizadas a reatividade vascular, mensuração do estresse oxidativo em fígado e marcadores bioquímicos do sangue. A FAR teve um rendimento de 8,615% e esteve dentro dos padrões microbiológicos estabelecidos pela legislação. A composição centesimal da farinha apresentou teor de umidade de 9,13 ± 0,29% , teor de cinzas de 4,05 ± 0,29%, 5,31 ± 0,10% de proteínas, 79,7 ± 0,33% de carboidratos e 1,01% ± 0,02. de lipídeos. A farinha apresentou uma concentração de fibras de 11,16 g/100 g de FAR, teor de compostos fenólicos totais de 755,2 ± 36,7 mg/100 g da farinha, concentração de flavonoides de 200,0 ± 19,0 mg/100 g da farinha e uma concentração de ácido ascórbico de 446,4 ± 0,0 mg/100 g da farinha e bioacessibilidade de 12,50% de fenólicos,18,36% de flavonoides e 75,93% de ácido ascórbico em fração líquida. O tratamento com a FAR não reduziu a massa corporal, CA, CNA e CNC dos grupos tratados. A FAR reduziu o consumo alimentar no SHR em relação ao W FAR (64,81 ± 18,06 g vs. 150,89 ± 29,51 g) e o consumo hídrico do SHR CT foi significamente maior que o grupo W CT (232,48 ± 39,81 ml vs.149,14 ± 13,93 ml). Na pressão arterial diastólica (PAD) houve uma diminuição no grupo SHR FAR vs. SHR CT, sugerindo que a farinha causou diminuição de (PAD) no grupo hipertenso (96,69 ± 9,06 mmHg vs.109,83 ± 5,82 mmHg). Na reatividade vascular, o tratamento com a farinha diminuiu a contração dos anéis na presença de endotélio no grupo W FAR em comparação ao grupo SHR FAR (55,0 ± 2,8% vs. 85,8 ± 8,6%). Não foram observadas alterações do tratamento com FAR quanto às respostas vasorrelaxantes com aceticolina e nitroprussiato de sódio. Acerca dos pesos dos orgãos, não houve diferença estatística no peso do coração dos animais entre os grupos, O grupo SHR CT teve o aumento de níveis de NADPH oxidase, em comparação ao W CT (202543 ± 39636 RLU/mg vs. 83944 ± 4668 RLU/mg). Também não houve diferença estatística entre as concentrações séricas de glicose, colesterol e triglicerídeos. Os dados indicam que a FAR é capaz de diminuir a PAD e possui uma ação vasodilatadora dependente de endotélio em condições de tratamento mencionados.