Colonialidade de gênero e mulheres indígenas : epistemologias para além do binário

Abstract

Este artigo se inscreve na perspectiva decolonial e analisa como a colonialidade de gênero operou como mecanismo central na reconfiguração das relações sociais dos povos indígenas latino-americanos, especialmente a partir da colonização europeia. Parte-se do pressuposto de que o conceito moderno de gênero, binário, hierárquico e heteronormativo, é uma construção histórica ocidental imposta como tecnologia de dominação. Nesse processo, não apenas os corpos, mas também os saberes, os territórios e as cosmologias indígenas foram deslegitimados. Com base em pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico e exploratório, o estudo dialoga com autoras e autores como Lugones, Quijano, Mignolo, Oyěwùmí e Segato, além de vozes indígenas como Aurora, Kaingang, Tavares e Tupinambá. Discute-se como as indígenas mulheres, guardiãs de saberes e protagonistas de lutas contemporâneas, têm reivindicado seus corpos e territórios como espaços de reexistência. Suas práticas e espiritualidades revelam outras formas de vida e conhecimento, desafiando a lógica binária e eurocentrada da modernidade. Pensar com essas experiências é uma urgência ética e política diante das violências coloniais persistentes.