O gênero Manual do Professor de Língua Portuguesa : uma análise à luz da história das disciplinas escolares

Abstract

Com o processo de democratização do ensino público, ao longo das décadas de 1960-1970, um novo público passa a integrar esse contexto, gerando assim mudanças no perfil do educando, do educador e do material didático. Com isso, o livro didático passou a ser considerado um dos principais instrumentos de mediação utilizado pelo professor na apresentação dos conhecimentos científico e didático (BATISTA, 1999; 2003). Nesse cenário de inserção e atual permanência do livro didático, na maior parte das escolas da rede pública do Brasil, o manual do professor não poderia ser esquecido, haja vista a sua intenção de orientação teóricometodológica a respeito da organização e das propostas didático-pedagógicas que constituem o livro do aluno. Assim sendo, o manual do professor de Língua Portuguesa pode ser definido como um gênero do discurso que se presta à formação docente, cujo propósito não se limita apenas a explicitar a organização do livro do aluno, mas, sobretudo, procura referenciar artefatos científicos e encaminhamentos pedagógicos que dialoguem com os atuais estudos sobre o ensino/aprendizagem de língua, referendados pelas pesquisas acadêmicas e disseminados pelos documentos oficiais, a exemplo dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (NÓBREGA, 2008; NOGUEIRA, 2014; ANDRADE, 2014). Nesse âmbito, ao entendermos o manual do professor como um gênero do discurso, acreditamos que as suas orientações podem contribuir para a constituição da disciplina Língua Portuguesa. Por esse motivo, o objetivo geral desta pesquisa foi analisar o plano organizacional constituinte da disciplina Língua Portuguesa, nos manuais do professor das coleções didáticas aprovadas no Programa Nacional do Livro e do Material Didático - PNLD 2017, a partir da história dessa disciplina escolar. Nesta tese, analisamos os manuais das três coleções mais adotadas e distribuídas pelo PNLD 2017, destinadas a alunos dos anos finais do Ensino Fundamental, a saber: “Português: Linguagens”; “Singular & Plural – leitura, produção e estudos da linguagem” e; “Para Viver Juntos: Português”. Para atingir o nosso objetivo, adotamos três categorias de análise: 1) princípio de legitimidade; 2) processo de hierarquização; 3) princípio de solidarização. Essas são algumas das categorias que num processo de interação e movimento contínuo contribuem para a organização de uma disciplina escolar (CHERVEL, 1990; SCHNEUWLY & DOLZ, 1999; BUNZEN, 2007; VIÑAO, 2008; HALTÉ, 2008). A análise dos manuais do professor permitiu-nos então identificar alguns aspectos constituintes da disciplina Língua Portuguesa, a saber: i) os PCN é o principal documento oficial que legitima os saberes a ensinar; ii) as propostas teórico-metodológicas, que embasam as coleções didáticas PNLD 2017, tendem a seguir as orientações dos PCN e dos atuais estudos sobre o ensino-aprendizagem de língua; iii) a disciplina estrutura-se em torno das práticas de linguagem: práticas leitura e escuta, práticas de produção de textos orais e escritos, prática de reflexão dos conhecimentos linguísticos; iv) os conteúdos/objetos de ensino da disciplina são articulados em torno de temáticas e/ou gêneros textuais; v) o trabalho com os conhecimentos linguísticos tende à oscilação entre o estudo da gramática tradicional e a reflexão dos aspectos linguísticos na construção dos textos.