Recrutamento de peixes no Atlântico Sul : experimentação com estruturas de agregação e fatores oceanográficos

Abstract

O recrutamento é uma fase do ciclo de vida do peixe importante e de difícil estudo pois muitos métodos amostragem são pouco eficazes na captura ou contagem de recrutas, especialmente em ambientes profundos. O presente estudo objetivou avaliar, pela primeira vez, a abundância e diversidade de recrutas de peixes em naufrágios de Pernambuco (Brasil) testando estruturas de agregação de peixes (FAD) e verificar influências de parâmetros oceanográficos no seu recrutamento. Testou-se dois modelos de FADs empregados em pesquisas de recrutamento: unidade de padrão de monitoramento de recrutamento de peixes recifais (SMURF) e recifes artificiais ancorados (ARM). O estudo realizou-se entre 09/2016 a 02/2019 (30 expedições) e comparou a abundância total de recrutas de peixes amostrados nos naufrágios Taurus e Virgo. Considerou-se dois modelos, duas profundidades (fundo e meia-água - 6 metros do fundo) e tempo de imersão do FAD. Testou-se a influência das correntes marinhas na inclinação das estruturas de ancoragem dos FADs. Averigou-se a influência das estações chuvosa e seca, das profundidades, do hidrodinamismo (na região boreste e bombordo do complexo de naufrágios Taurus-Virgo) e de parâmetros físicos e químicos da água sobre a estrutura da assembleia de recrutas enfatizando as espécies mais abundantes. SMURFs amostraram sete vezes mais recrutas de peixes do que ARMs, sem diferença entre as profundidades. Correntes marinhas locais inclinaram as estruturas de ancoragem com SMURFs cerca de 24º, reduzindo em 0,5 m a altura em relação ao fundo. O tempo de imersão avaliado, entre 14 e 28 dias não influenciou na abundância de recrutas. Não houve diferença no número de recrutas amostrados entre SMURFs de ambas profundidades, entretanto o tamanho dos peixes foi significativamente maior naqueles localizados no fundo. Identificou-se 25 espécies, entre elas sete novos registros em naufrágios no estado: Decapterus tabl, Astrapogon sp., Lutjanus buccanella, Doratonotus megalepis, Stephanolepis hispidus e Stephanolepis setifer. Houve um novo registro para a costa de Pernambuco: Apogon robbyi. Cinco espécies contribuíram com 84% de todos os espécimes amostrados. A estrutura da assembleia diferenciou-se entre as estações, onde a abundância total foi maior na estação chuvosa. No entanto, o recrutamento de Alphestes afer, Ste. hispidus e Ste. setifer foi maior nos meses da estação seca, enquanto Lutjanus chrysurus e Sparisoma sp. recrutaram em picos durante o período chuvoso. A. afer e Sparisoma sp. foram mais abundantes no fundo, enquanto S. hispidus e S. setifer preferiram SMURFs a meia-água. A região boreste do complexo de naufrágios Taurus-Virgo mostrou o dobro de velocidades de correntes em relação a bombordo, entretanto se influência sobre o recrutamento de peixes. As temperaturas médias, registradas com sensores in loco, mostraram-se significantemente relacionadas ao recrutamento dos peixes. L. chrysurus, S. hispidus e S. setifer recrutaram mais durante as maiores temperaturas, enquanto A. afer e Sparisoma sp. recrutaram mais nas menores temperaturas. FADs, principalmente SMURFs, mostraram ser boas ferramentas no monitoramento do recrutamento de peixes e espécies pequenas e crípticas em naufrágios do Atlântico Sul. Esse monitoramento é condição essencial para se determinar, com base ecológica, o afundamento ou não de novas estruturas.