Sífilis congênita e seus desfechos desfavoráveis : uma proposta de análise espacial subsidiando a construção de tecnologias educacionais

Abstract

O avanço da sífilis congênita no município do Recife evidencia falhas graves em seu sistema de saúde e demonstra a necessidade de implementação de estratégias de controle mais eficazes. O objetivo deste estudo foi construir duas tecnologias educacionais direcionadas ao público gestante e parceria sexual, subsidiadas pela análise espacial da sífilis congênita e seus desfechos desfavoráveis, no município do Recife, Pernambuco, Brasil, entre 2007 e 2016. Foi um estudo multimétodo, composto por dois estudos analíticos, um transversal e um ecológico, e um estudo metodológico. No estudo transversal investigou-se os fatores associados aos casos de sífilis congênita que evoluíram para abortamento, óbito fetal ou óbito de recém-nascido. No estudo ecológico investigou-se a existência de autocorrelação espacial dos indicadores epidemiológicos taxa de incidência de sífilis congênita em menores de um ano, taxa de mortalidade fetal em gestantes diagnosticadas com a doença e taxa de mortalidade infantil específica por sífilis congênita, agregados nos quinquênios 2007 a 2011 e 2012 a 2016, ao nível dos bairros do Recife. O padrão de autocorrelação espacial foi determinado pelos Índices de Moran Global e Local, com significância estatística inferior a 5% e representado por meio de mapas BoxMap e MoranMap que apontaram as áreas de clusters de maior interesse epidemiológico. A correlação entre os indicadores e o grau de desenvolvimento social e de condição de vida dos bairros foi investigada aplicando-se o coeficiente de correlação de Spearman e demonstrada por meio de gráficos de dispersão. O estudo metodológico correspondeu a construção de um vídeo educacional com caráter animado e um aplicativo de saúde composto por ícones informacionais e um ícone interativo, contendo uma proposta educacional por meio de um jogo de perguntas respostas, um caça-palavras e uma palavra cruzada. A taxa média de incidência de sífilis congênita foi de 6,8 casos por mil nascidos vivos. A não realização do pré-natal, o diagnóstico tardio da doença e a não realização do tratamento materno concomitante ao do parceiro foram os fatores significativamente associados tanto a maior ocorrência de abortamentos, quanto de óbitos fetais e neonatais por sífilis congênita. Nos dois quinquênios, o estudo evidenciou autocorrelação espacial positiva e significativa para os indicadores taxa de incidência de sífilis congênita (I = 0,502; p-valor = 0,01 e I = 0,269; p-valor = 0,02), taxa de mortalidade fetal (I = 0,351; p-valor = 0,01 e I = 0,189; p-valor = 0,02) e taxa de mortalidade infantil específica por sífilis congênita (I = 0,549; p-valor = 0,01 e I = 0,336; p-valor = 0,01), respectivamente. O Distrito Sanitário I do Recife mereceu destaque por ter apresentado para os três indicadores maior percentual de bairros ocupando padrão de correlação espacial alto-alto no MoranMap, inclusive, com bairros que apresentaram caráter estacionário de altas taxas. De forma geral, as maiores taxas dos indicadores foram localizadas nos estratos de mais baixo desenvolvimento social e piores condições de vida. A análise espacial se mostrou útil e capaz de subsidiar o desenvolvimento das tecnologias educacionais, ferramentas que poderão promover educação em saúde na prevenção da transmissão vertical da sífilis.