Imagens do trágico e alegorias da dor

Abstract

Esta pesquisa surge em seguida ao processo de Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff e à ascensão da extrema-direita no mundo, evidenciada pela eleição do presidente estadunidense Donald Trump. Naquele momento, tornam-se frequentes passeatas e manifestações de rua pelo Brasil, descritas, muitas vezes como um fenômeno que se resume a uma disputa de narrativas sobre qual país é contado a partir daquele momento, com a perspectiva de olhar não somente para o futuro, mas, principalmente, para o passado. Há um enlace fatal entre páthos e cronos, entre nossas emoções e como elas se distribuem em uma dimensão temporal, social e coletiva. O problema desta pesquisa é a investigação sobre o potencial de imagens fotográficas para articular, mobilizar e agenciar emoções, tais quais horror, pavor, piedade, medo e compaixão, percebidas como interseção entre peças clássicas trágicas e movimentos políticos de resistência e de revolução. A hipótese deste estudo é de que modo imagens relacionadas ao período histórico depois de 2013, no Brasil, consolidam uma percepção trágica de mundo. Como metodologia, foram aplicados dois procedimentos principais que se alternam: o relato auto etnográfico para a descrição das manifestações de rua, enxergadas aqui como momentos ritualísticos mediadores da produção de imagens; procedimentos de montagem e de análise de quadros compostos de imagens, articulados pelo arcabouço conceitual dos estudos do trágico, tanto pelas suas dimensões filosóficas quanto pelas críticas vindas da Teoria da Literatura. As imagens são estudadas a partir da noção de representação e também como testemunho histórico. A seleção do corpus de imagem está amparada na busca pela identificação de matrizes de imagens que, quando aproximadas, testem a possibilidade apresentada neste projeto: a investigação de imagens de resistência política cuja dimensão sensível se aproxima da sensibilidade trágica. Compõem o corpus de estudo fotografias vindas da Internet e ensaios fotográficos publicados em meio impresso. Como estratégia metodológica, fotografias contemporâneas foram colocadas em diálogo com fotografias históricas e também com imagens das artes visuais, principalmente do Modernismo Brasileiro. Os resultados desta pesquisa apresentam a articulação entre estudos da imagem e da História da Arte como ferramentas de investigação de composições de imagens do fotojornalismo e de leitura do presente. As conclusões apontam caminhos pelo qual a sensibilidade estética, neste caso, circunscrita à tragédia, pode servir de análise de contextos políticos do presente.