Sonhos lúcidos : uma investigação neurofilosófica da autoconsciência

Abstract

Sonho lúcido (SL) é definido como o fenômeno no qual a pessoa que sonha sabe, enquanto sonha, que está sonhando e reflete sobre seu próprio estado corrente de sonho: “Eu estou sonhando agora”. O que diferencia um SL de um sonho não lúcido ou comum são os estados de consciência de ordem superior, como a consciência autorreflexiva (ciência do próprio estado de consciência) e a autoconsciência (consciência de si), alcançados pela sonhadora ou pelo sonhador. Entendemos que a explicação dos SL e dos sonhos em geral têm papel fundamental na elaboração de uma teoria geral da consciência. Desta maneira, nos utilizamos do método de pesquisa neurofilosófico, ou seja, tomamos dados neurocientíficos das pesquisas em SL e em autoconsciência, a fim de discutir os sonhos e a autoconsciência em seus aspectos filosóficos. Isto tudo porque entendemos que a autoconsciência, assim como todos os processos psicológicos humanos, são fenômenos encefálicos – o que constitui uma concepção materialista. Esta dissertação estuda, em seu conteúdo, teorias mitológicas, psicológicas, fisiológicas e psicofisiológicas que discutem as origens e as possíveis funções dos sonhos; como o SL aparece na história da filosofia; a discussão sobre a legitimidade do estado de lucidez onírica; os estudos experimentais de sonhos e SL; alguns conceitos de consciência fenomênica e de ordem superior discutidos por filósofos e filósofas; e como percebemos a manifestação destes conceitos na ocorrência de um SL. Em termos neurocientíficos encontramos que diversas áreas corticais pouco ativadas nos sonhos comuns estão fortemente ativadas no SL, como o pré-cúneo e o pré-frontal dorsolateral, e são áreas importantes para a consciência autorreflexiva e consciência de si que ocorre na vigília. Espera-se com esta dissertação mostrar a importância de estudos filosóficos dos sonhos e dos SL.