A dinâmica do 'cancelamento' e os movimentos minoritários: controvérsias públicas e emoções políticas no novo espaço público brasileiro

Abstract

A presente pesquisa exploratória pretendeu investigar a dinâmica do cancelamento enquanto (e em suas) controvérsia (s) pública (s), que reflete direta ou indiretamente pautas dos movimentos minoritários brasileiros, a partir da relação entre emoções e ação política. Para tanto, utilizamos da netnografia e da cartografia das controvérsias para, 1º, identificar os argumentos e as emoções acionadas pelos atores políticos envolvidos de alguma forma no episódio de cancelamento da antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz e, 2º, investigar as controvérsias públicas a partir dos discursos com relação ao cancelamento nas mídias digitais, dando foco aos atores políticos e dilemas envolvidos. Com isso, encontramos a acusação e o ressentimento enquanto categorias importantes de serem trabalhados em posteriores pesquisas, além de temas que tangenciam o objeto de estudo que é o cancelamento. A complexidade encontrada no “cancelamento” revela a importância de pesquisar a problemática, ainda mais considerando que o tema, embora se manifeste enquanto novidade em suas roupagens, dilemas, efeitos e nomenclatura, não parece ser algo inédito nem passageiro; muito menos concebido como algo que se restringe às mídias digitais ou ao momento pandêmico experienciado. Sendo assim, o cancelamento parece envolver aspectos caros para as ciências sociais dispostos no cenário das guerras culturais brasileiras, como a cibercultura, os marcadores sociais que se manifestam nas relações conflituosas mediante a distribuição desigual de poder social, as estratégias políticas de grupos específicos e alguns dilemas socioculturais importantes que se inserem nessa conjuntura.