Design para (re)significar : diálogos sobre autoimagem pelas lentes de mulheres que enfrentaram o câncer de mama

Abstract

Esta pesquisa procurou evidenciar os papéis que os artefatos costumam assumir nos contextos que envolvem a autopercepção do corpo e a adesão a determinados arranjos estéticos por mulheres acometidas pelo câncer de mama ante as transformações físicas que experimentam durante as diversas etapas de enfrentamento à doença, o que inclui a perda dos cabelos e a mastectomia. O câncer de mama corresponde a quase 30% dos casos de câncer diagnosticados anualmente, sendo 99% das ocorrências em pessoas do sexo feminino. É o segundo tipo mais comum entre as mulheres e, apesar curável em mais de 90% dos casos, ainda é o que mais mata. Embora o conceito de Beleza figure de maneira particular e subjetiva para cada um de nós, as representações sociais a respeito da mulher, do seio e do corpo feminino se configuram como um conhecimento socialmente elaborado em lugares de autoridade que excluem as mulheres e submetem sua autorrepresentação a um ideal de corpo inatingível e sistematicamente difundido. A pesquisa, de caráter qualitativo, objetivou compreender como os artefatos contribuem com o processo de ressignificação do corpo e a reconstrução da identidade dessas mulheres. O estudo de campo contou com entrevistas semiestruturadas, observações participantes, pesquisa documental exploratória e, por fim, a condução de oficinas de fotografia, durante as quais realizamos dinâmicas inspiradas em abordagens projetivas, a fim de acessar conteúdos mais complexos que, durante uma entrevista, não costumam emergir. Durante os encontros, promovemos espaços de discussão e de acolhimento a mulheres que, ao longo de suas trajetórias pessoais, vivenciaram os desafios do tratamento contra o câncer de mama. Por meio da apreciação das experiências das participantes, nos aproximamos do senso comum que compartilham sobre o seio e o corpo feminino, procurando ampliar suas perspectivas a respeito de si mesmas e apresentando-lhes um novo olhar, mais plural e gentil sobre sua autoimagem e sobre a imagem de outras mulheres. Os resultados das análises dos dados empíricos apontam para o Design como uma tecnologia de gênero com vasto potencial para dirimir barreiras físicas e psíquicas, transgredindo os padrões hegemônicos de beleza tanto por meio da concepção e materialização de artefatos, quanto através de seus de seus discursos, contribuindo, de modo consciente e intencional, como instrumento de ressignificação da autoimagem, resgate da autoestima e reconstrução da identidade feminina.