Caracterização química e radioquímica em rejeitos derivados da dessalinização da água subterrânea em Pernambuco

Abstract

A dessalinização é uma prática adotada no mundo inteiro e vem se desenvolvendo fortemente como alternativa à escassez iminente de água. No Brasil, a dessalinização por osmose reversa, tem sido essencial para suprir as necessidades do semiárido. Essas regiões são fortemente afetadas pelas secas e baixa disponibilidade de recursos hídricos superficiais. Outra alternativa são os recursos hídricos subterrâneos encontrados na região, no entanto, é importante mencionar que essas fontes apresentam um alto teor de sais devido ao contato com rochas cristalinas. O Programa Água Doce do Governo Federal (PAD) implementou um projeto de instalação de dessalinizadores como forma de benefício social, econômico e ambiental, levando em consideração não apenas a produção de água potável para população, mas também o gerenciamento adequado do rejeito derivado do processo. É por este motivo que o objetivo desta pesquisa consistiu em monitorar parâmetros físico-químicos e metais na água bruta, dessalinizada e no rejeito, como também avaliar radiometricamente os produtos do processo de dessalinização, buscando a caracterização química e radioquímica das águas do município Riacho das Almas, no agreste pernambucano. Os dados analisados mostraram uma eficiência de até 99,83% na remoção de alguns elementos contaminantes, em comparação com a água bruta, porém, apresentou certa ineficiência na remoção do Na+. Em termos de potabilidade, as águas dessalinizadas do município de Riacho das Almas estão em conformidade com a portaria no 888/2021 do Ministério da Saúde quanto aos parâmetros analisados, exceto a amostra P10, cujo teor de sólidos totais dissolvidos está acima do nível permitido. Em relação ao rejeito, de acordo com a aplicação do PAD, os elementos analisados foram comparados com os limites determinados pelas resoluções no 357 e 396 do CONAMA, como avaliação preliminar para as possíveis aplicações. Dentre os elementos analisados, boa parte está em conformidade normativa, exceto NO2, Ag, Cd, Cu e Ni, para aplicação na aquicultura, Cd na irrigação e Cd e Mn na dessedentação animal, o que implica na necessidade de ampliar o estudo para identificação da fonte que impacta na alta concentração. Também foi identificado alto risco de salinização e sodificação do solo, caso a água do rejeito seja utilizada para irrigação. Medidas radiométricas foram realizadas nas amostras de água dessalinizada e do rejeito derivado. Como resultados radioquímicos, em termos de potabilidade, apenas o P05 atingiu o limite máximo permitido para 226Ra, com valor de 1,03 ± 0,05 Bq.L-1. Em relação ao rejeito, a caracterização hidrogeoquímica teve forte correlação na presença de isótopos de 226Ra e 228Ra. Os maiores valores de Ra foram identificados em águas onde os íons concorrentes Ca+2 e Mg+2 tiveram maior contribuição. As concentrações de 226Ra no rejeito variaram de 0,44 ± 0,04 Bq.L-1 a 11,25 ± 0,18 Bq.L-1, já para o 228Ra, as variações ficaram entre 0,08 ± 0,06 Bq.L-1 a 0,37 ± 0,04 Bq.L-1. Pelos resultados obtidos, existe a necessidade da monitoração do rejeito da dessalinização, sua aplicação e destinação final, considerando que podem representar impactos ao meio ambiente, além de serem considerados NORM em termos de radioatividade ambiental.