O uso de armadilhas fotográficas para inventários de mamíferos em fragmentos de Mata Atlântica em Pernambuco

Abstract

O presente estudo investiga a mastofauna remanescente em fragmentos de Mata Atlântica no Centro de Endemismo de Pernambuco (CEPE), uma região que perdeu aproximadamente 94% de sua cobertura vegetal original, principalmente devido à expansão da monocultura de cana-de-açúcar. Apesar da intensa fragmentação, esses remanescentes ainda abrigam uma parcela significativa da biodiversidade, embora muitas espécies tenham sido extintas localmente ao longo dos anos. Por meio do uso de cameras trap (armadilhas fotográficas), buscamos registrar a ocorrência de espécies de mamíferos em fragmentos florestais da Usina Trapiche, visando contribuir para a caracterização da mastofauna local e fornecer subsídios para futuras ações de conservação. Foram utilizadas quatro câmeras modelo Muddy MTC 100K, instaladas na borda ou no interior dos fragmentos, priorizando áreas com vegetação baixa e presença de árvores adequadas para fixação dos equipamentos. A pesquisa destaca a importância desses fragmentos para a manutenção de processos ecológicos essenciais, como a dispersão de sementes realizada por espécies frugívoras, além do papel ecológico desempenhado por espécies-chave nos ecossistemas. Após de um esforço amostral de 8.160 horas em 40 pontos amostrais, foram registradas nove espécies de mamíferos, distribuídas em oito famílias. Entre elas, seis foram classificadas como onívoras (Didelphis sp., Eira barbara, Nasua nasua, Cerdocyon thous, Canis familiaris e Dasypus sp.), uma como insetívora (Tamandua tetradactyla) e duas como frugívoras (Cuniculus lupus paca e Dasyprocta sp.). Nenhuma das espécies registradas consta na lista de ameaçadas de extinção do Brasil. O estudo também enfatiza a relevância do envolvimento de gestores e tomadores de decisão em iniciativas conservacionistas, demonstrando não apenas a riqueza biológica desses fragmentos, mas também a necessidade de conciliar as atividades agrícolas com a conservação da biodiversidade. A metodologia indireta e não invasiva empregada mostrou-se eficaz para o registro de espécies arredias e de baixa densidade populacional, fornecendo informações valiosas para a elaboração de estratégias de conservação em paisagens antropizadas.