Imaginação como expansão da experiência : um estudo com uma idosa sobre sua vivência na pandemia da COVID-19

Abstract

O objetivo deste estudo foi investigar como se desenvolvem os processos imaginativos de uma pessoa idosa sobre a vida após a vivência da pandemia da COVID-19. Os idosos compõem um dos grupos de risco para o agravamento e falecimento em função da infecção respiratória causada pelo coronavírus, emergindo a necessidade de pesquisas e estratégias para o cuidado e prevenção com a saúde física e mental dessa população. Consideramos a imaginação um processo cognitivo central no enfrentamento de momentos de crises e rupturas, pois pode possibilitar a adaptação, considerando as limitações e potencialidade sociais e culturais do sujeito em relação com o mundo. Adotamos a perspectiva teórica proposta por Zittoun e colaboradores sobre o modelo de “loop” imaginativo, no qual a imaginação nos permite transitar entre passado, presente e futuro, e está relacionada à corporeidade e mobilidade, de forma a possibilitar a expansão da experiência com base em aprendizados do passado ou desejos para o futuro. O presente trabalho trata-se de um estudo de caso, de modelo idiográfico, que utilizou como instrumentos três entrevistas semiestruturadas, e a construção da ferramenta “Álbum: Era uma vez a vida com a pandemia”. Se desenvolveu através de três etapas que ocorreram de forma remota através de encontros mediados pelo Google Meet. Os dados apresentados foram construídos junto com uma participante, de codinome Libélula, de 73 anos e residente na região metropolitana de Recife - Pernambuco. A análise foi realizada de acordo com os conceitos teóricos propostos pelo modelo adotado. Identificou-se que Libélula realizou 18 ciclos dinâmicos imaginativos, sendo que a maioria apresentou temporalidade direcionada para o passado, generalidade específica, plausibilidade possível dentro do seu contexto sociocultural e a corporeidade envolveu imaginações tanto sobre seu corpo quanto sobre o corpo do outro. A participante realizou adaptações em suas esferas de experiência para manter seu senso de auto continuidade e se adaptar à realidade, identificando assim aspectos protetivos e criativos desenvolvidos por ela, como a realização de atividades prazerosas, além da importância de sua rede de apoio e do uso de tecnologias para manter suas relações sociais. Além disso, foi possível conhecer como a modalidade da participante foi afetada pela experiência da pandemia. Espera- se contribuir com esse estudo para a Psicologia Cognitiva tanto no que diz respeito a metodologias para construção e coleta de dados de forma remota, quanto corroborando para a construção e fortalecimento de teorias sobre o processo cognitivo da imaginação em diversos contextos e cenários.